Quem nunca se emocionou cantando Hakuna matata junto do nosso querido Pumba? Ou se divertiu com as aventuras do nosso ogro verde Shrek? Ou então, tentou dar susto em criancinhas como nosso monstro Sullivan? Ou mais, navegou os sete mares com o Capitão Barbosa? Se nada disso tiver lhe ocorrido, talvez tenha ficado quase invisível com nosso icônico Drax?
Mauro Ramos fez e faz isto e muito mais. Dando a voz a estes personagens, o mesmo já tem em sua bagagem 31 anos de experiência com trabalhos de excelência. Alguns de seus trabalhos são: Pumba; Shrek; Sullivan; Drax; Bafo de Onça; Zeca Urubu; Soichiro Yagami; Gancho em Enrolados; Gato Risonho; Lumière em A Bela e a Fera; Wilson Fisk de Demolidor; Dr Richard Webber na série Grey’s Anatomy; Coisa no Quarteto Fantástico, entre outros.
Também deu voz a atores como: Tom Hanks; Danny DeVito; Martin Lawrence; Jeffrey Dean Morgan; Timothy Spall; e mais. Confira a entrevista:
Olá Mauro, muito obrigada por aceitar esta entrevista. Completado 31 anos na área de dublagem, existe algum personagem que você dublou que sente saudade em dar voz?
“Tem um personagem que eu gosto muito e gostaria de fazer novamente que é o Larry 3000, um robô de um desenho da Cartoon Network chamado ‘Esquadrão do Tempo’. Gosto muito dele porque ele é uma pessoa normal apesar de ser um robô (risos)”.
Hector Barbossa, Pumba, Shrek, Sullivan, Cecil Fredericks e Drax são alguns dos meus personagens preferidos dublados por você. Existe algum que você considere o favorito?
“Não, não tenho favorito. Não é bobagem não, é que todos os personagens que eu fiz são um pouco meus filhos, são um pouco de mim. Então não tenho preferido não, posso te dizer quais são os que o público prefere, mas eu prefiro todos eles”.
Há algum tipo de preparação diferente para cada personagem que você dá voz?
“Olha, não a preparação. A gente só fica sabendo o que vai fazer na hora da gravação e quando vamos fazer um teste, a gente observa, por exemplo: o original e intui o que a gente pode compor de voz que seja mais conveniente e mais propício para o público brasileiro. Não a preparação, a gente vai e se atira do avião sem paraquedas todo dia”.
Sobre o seu início na carreira, quais foram suas maiores dificuldades? Nos conte um pouco sobre seu começo.
“Comecei fazendo teatro em uma companhia no subúrbio do Rio de Janeiro e durantes muitos anos nós trabalhamos juntos, enquanto cada um tinha seu emprego em outro lugar. A gente ensaiava, fazia peças infantil e adultas. Fui trabalhando em empregos em que alguns eu não gostava nada, mas tinha que trabalhar para poder continuar a tentar ser ator. Acabei como secretário da editoria do jornal O Dia, no caderno D, lá no Rio de Janeiro e foi através desse trabalho que eu conheci a repórter Eliane Martins. Ela que me indicou para trabalhar no programa da Cidinha Campos no rádio, organizando coisas. Acabei sendo assistente de produção indo para lá, depois redator e depois radioator. E aí entrei em outro programa chamado ‘Patrulha da Cidade’, que era um programa ao vivo e continua sendo ao vivo, em que eu era redator e era radioator. A gente fazia lá na hora e uma colega nossa, a Cordélia Santos, me indicou para um colega dela que tinha ido lá para substituir um colega em comum do programa, que tirou férias. E nada mais, nada menos era o Mário Monjardim, o Monja, que vocês conhecem pela voz do Salsicha do Scooby-doo e do Pernalonga durante muitos anos. Ele me chamou para trabalhar na dublagem, sem eu nunca ter pisado em um estúdio de dublagem na minha vida. Fui lá três vezes, na terceira vez, fiz um teste e ele me levou até o superintendente da Herbert Richers, o Ronaldo Richers, filho mais velho do falecido Herbert Richers, e aí ele me indicou e eu fui contratado e estou na dublagem até hoje”.
Quais são as diferenças do Mauro Ramos de quando estava iniciando na carreira, para o atual, onde é consagrado como uma das vozes mais bonitas da dublagem brasileira?
“Muito! Muita coisa, porque naquela época eu ainda era muito jovem e tinha muitas expectativas quanto a profissão que foram terminando, se desfazendo ao longo do tempo. Mas eu me dediquei muito, totalmente na dublagem e só tenho alegrias, graças a Deus. A diferença que eu era mais ingênuo e mais idealista, hoje eu sou um ‘senhorzinho’ que já viveu muito na profissão”.
Que tipo de dicas você poderia dar para alguém que está iniciando na profissão?
“Olha, é o seguinte, para você ser um bom dublador, primeiro tem que ter talento. Para ser dublador, não basta ser ator, mas se tem esse talento, você tem que ter o registro profissional de ator, para poder trabalhar na profissão e ganhar dinheiro em cima disso. No mercado de trabalho, você tem que ter paciência e tem que ter uma coisa, que pode parecer meio brutal, agressivo mas não é: culhão. Porque você precisa ao longo do tempo mostrar que é uma pessoa pontual, que é eficiente, que tem talento, e isso precisa de tempo. Varia o tempo de pessoa para pessoa, mas basicamente isso. Você tem que ter talento, registro profissional, paciência e culhão”.
Qual foi a sua primeira dublagem e qual é o significado dela para você hoje em dia?
“A minha primeira dublagem foi um sim, senhor! em um filme de Faroeste do John Wayne. E o significado dela foi ser a primeira porta que eu abri na profissão, a gente abre muitas portas. E essas portas são passagens de fases. Então para mim, a importância dela que foi ser a primeira porta que eu abri dentro da dublagem”.
Gancho na animação ‘Enrolados’ é um exemplo de personagem na qual você falou e cantou na mesma cena. Durante as gravações, é mais trabalhoso dublar um personagem deste tipo?
“Para mim sempre foi meio complicado cantar, porque eu não estudei música e eu canto de ouvido. Consegui adaptar esse meu módulo de captar a música ao longo do tempo, e é tão trabalhoso quanto dublar. Mas é tão prazeroso quanto dublar para mim. Costumo dizer que sou um ator que finjo que canto e todo mundo acredita”.
Dos antigos aos atuais, quais dubladores você mais admira ?
“Seria uma lista gigantesca de profissionais que admiro. Eu admiro o Mário Monjardim Filho, o Monja, pela incrível capacidade que ele tem de falar depressa, interpretar depressa, de pegar o mopti de uma ideia e transformar essa ideia vocalmente. O Isaac Bardavid, com a interpretação precisa daquilo do que está fazendo. A Selma, que é uma atriz que dá alma no trabalho. Tanta gente, Juraciara Diácovo, Sumara Louise é sensacional, natural. Márcio Seixas, tem uma belíssima voz. Tem muitos que admiro. Dos antigos, Ênio Santos, os irmãos Cazarré. Um monte de gente que admiro e que me ajudaram muito, foram muito generosos comigo. Posso representar aqui uma pessoa em todos os dubladores e dubladoras que admiro, concentro em uma pessoa chamada Márcio Simões. Gosto muito do Briggs, do Manolo, de um monte de gente. Maíra, Wendel, Tiraboschi, mas o Márcio para mim é uma pessoa que é um dublador de excelência cantando e dublando”.
Como é a recepção do público em meio ao seu trabalho?
“O público normalmente é muito gentil, muito amoroso e muito dedicado ao trabalho da gente. Fui muito abençoado com relação a isso. Só não gosto dessas pessoas mal educadas, mas ninguém gosta. Pessoas atrevidas, abusadas. Mas de resto, que é 99,9% do público que gosta do meu trabalho, a recepção é muito boa, me tratam muito bem, são muito carinhosos”.
Você acredita que a dublagem tem sido mais valorizada com o passar do tempo?
“Tem sido mais valorizado sim, por alguns motivos. Primeiro, a valorização do trabalho de dublagem – nos anos 90 era dublagem, hoje é voz original -, que nos países de origem, principalmente os desenhos japoneses e consequentemente outros setores do entretenimento, animações e tudo mais, foram reconhecendo nosso trabalho. E o fato de terem colocado atores de televisão em exposição, em evidência na ocasião, ajudou a fazer com que a própria categoria de atores visse a dublagem, não mais com preconceito, vendo como era difícil dublar. Também expôs mais para o jornalismo, mas acho que tem muito, muito, muito ainda a ser divulgado para o grande público. Principalmente o pessoal de imprensa, ligado a entretenimento, tem que se informar mais e não ter tanto preconceito. Abram a cabeça e vejam que dublagem não é um dragão”.
Deixe uma mensagem ao público.
“A mensagem que eu passo para o público é: trabalho, suor e por favor, fiquem em casa nessa pandemia, porque a coisa é feia. Fiquem com Deus!”.
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