Suzana Morales se apresenta como cantora e compositora em “Respirar”, seu álbum de estreia. Em uma metáfora da própria jornada da vida, a artista se inspira pelos aprendizados dessa caminhada e apresenta seu primeiro trabalho autoral com toda experiência acumulada. Mergulhando em uma MPB totalmente orgânica, ela une múltiplas referências dentro da música brasileira, indo do samba ao experimental, e repaginadas para as atuais gerações. O trabalho já está disponível nas plataformas digitais. Confira a entrevista:
Nesse álbum que tem o single “Respirar” mergulhado no MPB e que ganhou releituras de grandes cantoras como Clara Nunes e Elis Regina, você pretende trabalhar com outro gênero musical ao longo da carreira além desse, como um samba?
Na verdade Respirar não teve influência de Clara Nunes e Elis Regina, diretamente. A antiga MPB de uma certa forma, me inspira a compor letras mais poéticas, melodias mais complexas, mas na verdade este álbum foi algo mais original, tanto que na hora de compor, eu ouvia música clássica para abrir minha mente e me inspirar. Uma preocupação minha sempre foi a originalidade. Agora, sim, tem cantoras, que me inspiram diariamente, que são atuais e fazem um som, ao meu ver de muita qualidade, como por exemplo, a Liniker, Fernanda Santanna, Daíra, Julia Vargas, entre tantas outras. E sim, meu álbum tem música para todos os gostos, tem samba, tem uma MPB mais experimental, tem outras mais poéticas, tem até um tango misturado com samba.
A peça “A Lira dos 20 anos”, montada por Menelick de Carvalho te inspirou na carreira solo como cantora, atualmente, você deseja focar apenas na música ou anseia por continuar atuando ?
Nunca descarto o teatro, pois ele é uma parte de mim, inclusive tento trazê-lo para o meu trabalho como cantora sempre. Pra mim cada música é um discurso, um texto, que precisa de alma e entrega pra preenchê-lo, e com isso comunicar. O trabalho de cantora, assim como no teatro envolve criar uma atmosfera, uma linguagem, assim como acontece em peças. É preciso pensar em tudo. O teatro e cantar pra mim são essenciais, tento sempre, não excluir um do outro, e se pintar alguma oportunidade exclusiva no teatro e que faça sentido pra mim em participar, não vejo o motivo de recusar.
Sabemos que você ganhou experiência nos palcos com grupos e bandas, mas foi a partir da peça “A Lira dos 20 Anos”, montada por Menelick de Carvalho, que você entrou em contato com um repertório rico de música brasileira que a inspirou a seguir carreira como cantora solo. Conta um pouquinho como foi participar da peça “A Lira dos 20 Anos”?
Participar da Lira foi um privilégio. Além de viver aquela história, que foi um fato que aconteceu no Brasil (A Ditadura Militar), passar por aquilo foi e sempre continua sendo um lembrete daquilo que devemos evitar para nosso futuro. A história, ao meu ver, ensina certos capítulos da vida, que nunca devemos deixar que voltem acontecer. Serve para corrigir rotas. Viver a Lira, no momento em que Bolsonaro estava prestes a se eleger, um presidente que vive flertando com a Ditadura, fez com que a história que estávamos mostrando, realmente servisse de alerta e lembrete para as atrocidades que foi aquele período. Nunca podemos deixar que isso aconteça, nem muito menos defender esta atrocidade. A Lira também trouxe o contato com canções belíssimas daquele período, um verdadeiro legado, que a arte salva sim. Entrar em contato mais profundo com o significado daquelas canções, dentro daquele contexto me mexeu de forma profunda. tanto que lá mesmo descobri uma voz forte em mim e não pude mais calar. Fez uma reviravolta na minha vida e carreira.
Em “Respirar”, você mergulha em uma MPB totalmente orgânica, faz desta canção um potente manifesto autoral e uma personificação de suas múltiplas referências dentro da música brasileira, indo do samba ao experimental, e repaginadas para as atuais gerações. Conta para nós que múltiplas referências dentro da música brasileira você precisou se inspirar para essa canção?
Olha, a canção Respirar, não teve uma referência propriamente dita. Ela mesmo a partir do texto, trouxe uma significação e dentro disso, o instrumental acompanhou este sentido. A minha interpretação sobre o poema de Carol Pitzer, originalmente, denominado de “Ar”, chamou minha atenção, de como era profundo, parecia que a alma se extravasava em texto. As palavras me remeteram a um furacão, alusão para meu furacão interno, doido pra sair no mundo e “Respirar”, foi aí que denominei a música desta forma, e o arranjo feito por Edvan Moraes, trouxe o furacão. Já a melodia sozinha, lembra a uma oração, súplica, então foi isso, essa mistura doida e maravilhosa.
Conte ao público um pouco sobre quem é Suzana Morales e o que a música significa para você.
Suzana Morales, é uma mulher artista, que se preocupa em tornar o mundo melhor através da sua própria reforma íntima, e com sua arte: comunicar. Eu tento sempre abrir novos caminhos, acho que não podemos deixar que nossos sonhos e ideais de felicidade sejam decididos por ninguém, cabe a nós, agir e fazer a coisa acontecer. A criança tem muito disso, sabe, ela é criativa, ela se movimenta e faz, não está muito preocupada em agradar. A gente cresce e perde isso. Acho que o mundo seria muito melhor se tivéssemos em contato com nossa criança interior. Acho que a criatividade é a mostra da espiritualidade junto com você, quando estamos inspirados estamos neste fluxo. Eu quero trazer a liberdade para mim, e inspirar os outros a fazer o mesmo. A música pra mim é a conexão universal, é cura, é alegria, é protesto, ela é uma forma poética daquilo que sentimos e pensamos. A música pra mim é o extravasamento da minha alma, quando ela não cabe mais no corpo, ela também é a minha comunicação com a espiritualidade. A música move almas.
O que podemos esperar desse seu novo álbum que tem o single “Respirar” como a melodia que abre espaço para seu futuro lançamento?
O álbum Respirar, é um álbum de MPB como você nunca viu, não no sentido de superioridade, afinal temos tantos outros artistas incríveis e seria absurdo e injusto da minha parte dizer isso, mas é diferente no sentido de haver diversos ritmos e estilos de MPB. Ele não segue regras de mercado ou uma linha só de composição. Este álbum rompe barreiras de lógica e unidade. Não tem medo de ousar, ele é um pouco do reflexo dos meus diferente gostos musicais, a única unicidade dele é ser livre. A liberdade é o que importa.
Como o público tem recebido a canção?
Muitas pessoas têm falado que Respirar é uma música que traz calma e cura. O que pra mim é sensacional, é exatamente o que quero que a música faça. Cure. Estou muito satisfeita com o retorno.
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