O encontro de gerações presente na musicalidade do grupo Samba do Arnesto ganha destaque no single e clipe “O meu samba em oração”, contemplado pela Lei Aldir Blanc. O projeto, que traz em seu DNA um olhar mais moderno sobre o gênero, canta as memórias afetivas criadas em torno da música e da religiosidade em família. A faixa está disponível para audição nas principais plataformas, e ganha ainda um clipe.
A letra narra a relação entre avó e neto – ela, devota das orações; ele, do samba. Transformando musicalidade em prece e reza em celebração, a faixa abarca tanto o ritmo quanto as múltiplas crenças brasileiras. O que poderia ser visto como antagônico é, na verdade, celebrado como caminhos herdados das tradições familiares. Confira a entrevista!
Contemplado pela Lei Aldir Blanc, o single “O meu samba em coração” traz em seu DNA um olhar mais moderno sobre as questões afetivas que movem a música em relação à religiosidade. Como foi trazer essa nova representação para o gênero musical?
Na verdade, não é tão nova assim. Se você for olhar na historia do samba, você vai encontrar diversas canções trazendo a religião como temática. Lembremos de Vinicius de Moraes, “um bom samba é feito em forma de oração. O próprio samba vai surgir dos batuques de Angola nos terreiros de candomblé. Então samba e religião estão entrelaçados diretamente por meio da história e a influencia que um exerce no outro é constante.
Se a gente pode falar em algo no novo nesta musica, foi na concepção do arranjo, construído juntamente com o musico sergipano Ricardo Vieira, em que gravamos primeiro baixo e violão de 7, bem percussivo, ritmado, simulando um tambor, e a partir deles, gravamos todo o restante, o que não é tão comum numa gravação de samba.
O enredo que a música busca trazer, além da curiosidade de não estarmos tão familiarizados ainda com o samba tratando de temas religiosos, a letra gira em torno do relacionamento entre a avó que é devota das orações e o neto que é seguidor do samba. Poderiam nos contar um pouco sobre como foi imaginar a história para seguir essa canção?
Com relação a historia da nossa musica, ela, na verdade, é quase que autobiográfica, pois tem a ver com a historia de dois dos nossos integrantes, que são irmãos, Rafael Oliva e Roquinho, e tb foram os compositores, junto com seu tio e poeta sergipano Luiz Eduardo Oliva.
Portanto, a letra passeia por essa lembrança afetiva da relação dos dois com a avó, de nome Maria, já falecida, que embora fosse muito religiosa, os netos não trilharam tanto por esse caminho. Então o samba foi essa forma metafórica de dizer a ela, que por mais que não sejamos tão devotos, estamos aqui rezando e pedindo por ela.
As gerações, conforme vão se passando, elas também trazem mudanças culturais que se tornam características de seus membros e a impressão que temos é de que o tradicionalismo está cada vez mais sendo modificado. A ideia de mostrar essas transformações também está sendo fortemente trabalhada no conceito do Samba do Arnesto?
É algo muito debatido durante os processos criativos da banda. Cada geração vai deixando sua marca na musica e acho que nossa geração não será diferente.
Porem existe uma linha muito tênue entre o tradicional e o inovador, ser desmotivo, mas ao mesmo tempo respeitar toda a historia de um estilo tão importante. Apesar de essa temática existir desde o começo do projeto, cada vez fica mais evidente enquanto nos tornamos criadores dos nossos próprios sambas, como ocorreu em Meu Samba em Oração.
Então existe sim uma intenção de deixar nossa marca nessa geração musical, e isso com certeza vai ser trabalhados bastante com os produtores, arranjadores e todos aquelas partes interessadas que vejam potencial no nosso projeto.
O ano de 2022 será um momento muito especial para o grupo, pois irão completar 10 anos de união no cenário musical brasileiro. Vocês já possuem planos para comemorar esse aniversário?
Apesar das circunstancias atuais não nos permitirem montar planos com certa exatidão, a nossa ideia para comemorar a década de banda é com nosso álbum de autorais, assim como a volta (com fé na vacina) do nosso bloco de carnaval Vem Ni Mim Arnesto juntamente com um documentário sobre essa jornada carnavalesca da banda e da nossa cidade Aracaju. Quem sabe outras ideias surjam daqui pra lá.
Qual é a maior proposta com o Samba do Arnesto? Esses objetivos estão sendo fielmente Realizados?
Quando foi criado em meados de 2012 a ideia era ser um projeto de pesquisa do samba, que objetivava mostrar ao publico mais “jovem” as raízes da musica brasileira, assim como interpretar alguns sambas que não tiveram aquela fama midiática em sua época embora sejam composições belíssimas e necessárias.
Ao longo desses anos acreditamos que concretizamos uma boa parte desse objetivo, trazendo sempre um repertorio diferente a cada show, e reunindo um publico diversificado que as vezes não conhecia alguns sambas tocados mas acabaram conhecendo através de nós.
Naturalmente os objetivos vão mudando e se adaptando, hoje podemos dizer que depois de anos de pesquisa, nos sentimos mais a vontade para evoluir no estilo e assim poder entregar a mensagem do samba com nosso toque pessoal.
Sendo assim, um das propostas atuais da banda é gravar e lançar o primeiro álbum de autorais, contribuindo assim mais ainda para a evolução desse estilo genuinamente brasileiro.
Em um momento tão difícil vivido atualmente, qual é a importância de se falar do amor, memória afetiva e saudade?
Falar de amor, memória afetiva, saudade é sempre bom e importante em qualquer momento, claro que num contexto de pandemia, em que muitas pessoas estão morrendo, perdendo seus entes queridos, estes temas ajudam acalentar um pouco mais a dor, mas a gente também não quer com isso propor um certo tipo de esquecimento alienizante, é importante também que as pessoas sintam o seu luto, reflitam o porque estamos passando por isso, quem são os culpados, e se revoltem também! O amor quando se junta com a revolta é o que há de mais revolucionário!
Quais foram/são as maiores inspiração e referência para esse projeto?
Ahh… Com certeza toda a historia e discografia do samba, que vai de Noel, Cartola, Dona Ivone, passa por Beth Carvalho, Zeca, Caetano, Gil e chega nos mais contemporâneos como Diogo Nogueira, Maria Rita, entre outros, mas, sem duvidas, a gente tem um carinho especial pelos Originais do samba, Antonio Carlos & Jocafi e Ismar Barreto, que é um artista sergipano, porque a mistura dos 3, da um pouquinho do que é o Arnesto.
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