Edilaine Geres é uma psicopedagoga, pedagoga atuante no ensino fundamental anos inicias. Formada inicialmente no magistério pelo CEFAM (Centro de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério), atuou em escolas particulares, proprietária de Escola de Educação Infantil em Bastos/SP, onde reside e leciona atualmente. Atuou como coordenadora pedagógica do Ensino Fundamental e como Assessora Técnica Pedagógica, atualmente ministra formação on-line para professores alfabetizadores. Formada em Libras, pós-graduanda em ABA para autismo e Deficiência Intelectual. Autora de projeto social “Aluno Fora de Série” para ajudar crianças carentes com atendimento psicopedagógico gratuito. Coautora do livro “Autismo: Um olhar por inteiro”, pela Literare Books International.
Conversamos com ela sobre assuntos como alfabetização, inclusão na escola, educação infantil, entre outros. Confira a entrevista:
Com a pandemia, ficou ainda mais difícil o aprendizado das crianças. Falando exclusivamente daqueles que ainda estão sendo alfabetizados, qual a melhor prática que os pais podem utilizar para não deixarem seus filhos ficarem para trás? E quais são as formas que podem trazer eficácia vindo do governo contra o analfabetismo?
Sem dúvida, o aprendizado tem apresentado grandes lacunas, porém, não podemos culpar ninguém por isso. As famílias assim como professores, gestores têm feito o melhor com os recursos que possuem. As famílias como sempre coube a parte de incentivo, práticas sociais da leitura e escrita, mas em meio à pandemia vimos o grande problema da educação se evidenciar. A falta de compreensão das teorias sobre a criança e como se dá seu aprendizado, as famílias possuem apenas o modelo em que foram alfabetizadas, mas isso não dá resultados efetivos. Desta forma para potencializar esse ensino pelas famílias quanto mais próximo for do processo que o professor utiliza melhor, ou seja deixar a crianças realizar a atividade a sua maneira, seguir as orientações que os professores têm dado as famílias com intervenções, questionamentos durante a realização das atividades e garantir o estabelecimento de uma rotina. Nesse sentido, temos observado que as famílias não têm conseguido organizar, mas é crucial para a criança manter a atenção, ritmo de aprendizado como se estivesse indo para a escola.
Qual é a importância em gerar inclusão nas escolas? E por qual razão é tão raro de se ver colégios dando aula de por exemplo libras, algo tão importante para se ter essa inclusão?
Primeiramente que é direito dos indivíduos estarem inseridos na sociedade, segundo que a LIBRAS só é realmente necessária se houver um aluno surdo. LIBRAS é a segunda língua oficial do nosso país e durante minha jornada na educação não foram muitas as crianças surdas em sala de aula que presenciei. Há muito mais crianças com transtornos, dificuldades de aprendizagens, síndromes e isso também não é cuidado pelas políticas públicas em garantir uma rede de especialistas dentro das unidades escolares, por exemplo. No entanto já se iniciou um olhar sobre essa questão iniciando este ensino na formação de professores, outra questão muito importante trata de muitas crianças surdas não saberem e utilizarem a LIBRAS.
Como exemplo, cito uma jovem que frequentava nossas salas de EJA (Educação para Jovens e Adultos) e a família estava exigindo uma intérprete para acompanha-la, porém, neste caso seria necessário primeiramente que a aluna aprendesse a LIBRAS para que de fato a comunicação, assim como o estudo fosse compreendido e garantido.
A dislexia é mais comum do que as pessoas podem imaginar, mas muitos pais não ligam em procurar um especialista e acabam considerando algo como ‘preguiça’ ou coisa do tipo. Como é possível identificar a dislexia e quais são as formas mais comuns que especialistas utilizam para ajudar quem a tem?
Exatamente a dislexia tem sido recorrente nos diagnósticos, porém ela precisa ser bem avaliada. Sabemos também que o diagnóstico da dislexia não é fechado enquanto as crianças estiver em processo de alfabetização. Alguns fatores são sinais que podemos observar como a criança que realiza muitas trocas de fonemas na escrita e leitura, má articulação nas palavras, palavras ou frases sem sentido, incapacidade de guardar/lembrar nomes, má distribuição na folha de atividades, dificuldade de guardar conceitos antes/depois, direita/esquerda, símbolos matemáticos, dias, meses, semanas, apresentam também dificuldades motoras como andar desajeito, etc. O quanto antes investigar e intervir melhor será o desenvolvimento dessa criança. O professor pode potencializar o ensino/aprendizagem com aluno disléxico utilizando todos os sentidos: visão, tato, audição, trabalhar o concreto e garantir a repetição do ensino com diversas estratégias. Ler as comandas das atividades de forma clara, objetiva e apoiar esse aluno, pois muitas vezes ela não compreende por ter essa demora na leitura, porém se alguém ler para ele irá compreender. Cuidar dos momentos avaliativos também é direito desses alunos, com alguém para auxiliar na leitura e mais tempo para a realização das provas.
No geral, como você vê a atuação das escolas e do governo em relação às aulas presenciais? Quais métodos você acha eficaz e quais deviam ser modificados?
Na minha visão e opinião, sem dúvida avançamos muito, porém, ainda há muito que caminharmos, pois falta políticas públicas que pensem na educação atrás dos índices. Quanto aos métodos, há uma barreira ainda a ser quebrada, pois ainda vivemos a disputa dos métodos, infelizmente. Na atualidade embora tenhamos conseguido um documento nortear na educação que é a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) o que mais se discutiu foi qual método o documento traz. Dito isso vou mencionar o que traz resultados aos alunos em sala de aula, e isso é o que realmente importa, pois quando se faz algo precisamos sempre avaliar e alterar quando necessário para que o alvo, meta seja alcançada. Na escola é o mesmo princípio, como diz a educadora e pesquisadora Magda Soares “não um método, bem como um único método não seria suficiente apara alfabetizar”, utilizo e ensino a partir dos métodos e demais teorias de acordo com o que o aluno precisa, com base em conhecimentos que já possui e no que precisa aprender.
Sabemos que muitos pedagogos e inclusive psicólogos incentivam os pais a estimularem o aprendizado dos filhos em casa, inclusive colocarem em prática os aprendizados no cotidiano. Acredita que com orientação seja possível obter o mesmo efeito que eles teriam estando no ambiente escolar? O quão perto esse nível chega?
Sim, completamente vemos isso na realidade em sala de aula. Sem dúvida, as famílias que participam efetivamente do aprendizado evidencia os resultados. A criança em que as famílias participam e acompanham tomam para si a importância do ensino, da escola e se interessam pelo que está sendo proposto. O nível atinge aos objetivos do professor para aquele ano letivo e saliento aqui que acompanhar não é fazer pela criança, mas olhar atividades diárias, deveres de casa, recados, participar de eventos da escola, perguntar sobre a rotina e vida escolar da criança. Isso também melhor a instituição, pois as famílias ficam sabendo a rotina e o que acontece no interior da escola participando mais e também, por que não, cobrando seus direitos quando lhe cabem. Como diz o psicoterapeuta Leo Fraiman, “pais presentes filhos, filhos com futuro”.
Com uma vasta experiência na gestão escolar, principalmente no ensino fundamental, a senhora vem aplicando diversos cursos para formação de novos professores. Quais são seus principais critérios para a formação dos novos docentes para que possam contribuir com a educação das novas gerações do país?
Resisti e demorei aceitar gestão, porque amo ensinar e amo crianças, no entanto, quando fui para gestão me apaixonei por perceber que poderia também ensinar os adultos: professores, coordenadores, gestores em que ministrava formação. Desde então iniciei junto com as formações presenciais, as formações no on-line. Quando iniciou a pandemia eu já estava nesse cenário, o que me facilitou nas aulas remotas. Meu propósito é espalhar conhecimento e auxiliar aos meus alunos compreender como a teoria acontece na prática, tendo em vista as lacunas que a formação inicial nos apresenta infelizmente. Muitos professores desconhecem conceitos básicos do processo de alfabetização por falta da formação continuada que temos direito e que muitas instituições não garantem dentro das escolas ao seu corpo docente. Essa contribuição observo primeiramente na pessoa de cada professor em se sentir seguro ao compreender o processo, segundo pois podemos garantir a cada aluno um ensino de qualidade com resultados reais da construção do conhecimento de cada indivíduo.
Formada em Libras, pós-graduanda em ABA para autismo e Deficiência Intelectual, nós podemos deduzir que estão havendo alguns questionamentos quanto a aplicação do método de EAD e como aplicá-lo em uma metodologia para os alunos da faixa etária infantil. Quais são os principais pontos positivos e negativos que tem notado no processo?
Muitos negativos pela forma como tem sido conduzida. O CNE apresentou o parecer sobre o ensino remoto e inclui a Educação Infantil por fazer parte da Educação Básica, no entanto não podemos tratar este segmento sem olhar suas especificidades. Manter o vínculo, garantir momentos com a cultura da língua, nossa cultura, poderia ser algo possível, mas o que temos visto são “conteúdos” enviados às famílias que não são necessários e adequados nessa etapa. Se pensarmos nas fases do desenvolvimento infantil, é inconcebível pensar em famílias realizando atividades com crianças nessa idade no período da noite, por exemplo. Sem falarmos sobre a tempo de uso de telas e atenção das crianças nesse período. Tudo isso mais alguns fatores são fundamentais de serem cuidados. Positivamente vejo a relação das famílias com as crianças que de certa forma foi mais efetiva e criou vínculo familiar.
Durante sua trajetória, a senhora contribuiu para o livro “Aluno Fora de Série” e escreveu “Autismo: Um olhar por inteiro”. Quais foram a importância desses dois projetos literários para sua carreira? Porque acha que a desinformação em relação ao autismo tem se mantido tão grande, como os preconceitos e tudo mais? Esse conhecimento deveria ser obrigatório nas escolas?
Foi primeiramente a realização de um sonho, mesmo sendo coautoria amo estudar, ensinar, ler e escrever. Esse foi o primeiro de muitos com certeza, já plantei árvores, já tenho 2 filhos e agora já escrevi um livro. Sem dúvida acrescentou muito, envolve meu trabalho diário, vivo educação o dia todo, portanto me deu credibilidade também aos meus resultados com as crianças. Quanto a obrigatoriedade, acredito que ainda precisamos ganhar profissionais especializados no quadro de profissionais nas escolas brasileiras, isso daria mais qualidade a essas crianças como também apoio pedagógico ao professor e famílias. Garantir momentos formativos pontuais, com troca de experiências entre estes profissionais é o que falta urgentemente no ambiente escolar. Quanto a desinformação acredito estarmos avançando, pois já temos muitos familiares rompendo preconceitos e aceitando seus filhos como são, movimentos de conscientização, informação e muitos buscando e lutando pelos direitos de seus filhos. Tudo se inicia assim com pequenos passos, no entanto não podemos desanimar. O caminho é longo e sempre precisamos da união, essa fará a diferença.
Como é o processo de adaptação e desenvolvimento escolar das crianças nas escolas bem como o suporte que deve ser oferecido a elas?
Isso depende muito da instituição escolar, já vivi e presenciei momentos em que crianças neurotípicas não podiam ser acompanhadas dos pais nas primeiras semanas, então imaginem o que não temo nesse nosso Brasil por aí. Mas o ideal é sempre respeitar a criança, acompanhei esse processo com uma criança, por exemplo em que ela fica apenas uma hora na escola. Orientamos a famílias e acompanhamos para que esse tempo fosse respeitado e fomos aumentando esse tempo de permanência de acordo com o desenvolvimento e aceitação da criança que vai se adaptando, criando relações sociais, chegando a ter segurança com a pessoa que foi encaminhada a escola para acompanhar essa criança. Há crianças, no entanto, que não necessitam de tanto tempo para que aceite a permanência nesse ambiente novo, como também não necessitam de acompanhante nas atividades escolares. Quando o psicopedagogo, a equipe de especialista que acompanha a crianças, avalia ela dá algumas orientações às famílias, à escola se essa criança precisa de apoio um a um para aprendizagem por exemplo, ou ela pode estar entre as demais crianças para nas situações do ensino nas atividades.
Falando um pouco mais de Educação Infantil, qual o papel da comunicação dos pais durante o processo de aprendizagem?
Em qualquer segmento a família é fundamental. Ainda vivemos uma cultura em que acredita que a educação infantil é só o cuidar. Já avançamos nisso garantindo em lei a matrícula e ingresso das crianças da educação infantil em uma instituição escolar. Embora muitas famílias desconheçam essa lei, elas têm papel importantíssimo, principalmente como modelo as crianças. Ao ler, conversar com as crianças em casa estão desenvolvendo habilidades fundamentais que irão ser potencializadas no processo de ensino na instituição escolar. Crianças que os pais conversam, cantam, percebemos essa comunicação bem desenvolvida na própria fala e expressão das crianças desde pequenas. Ouvir as crianças também é importante, dar voz para que falem e desenvolvam a fala.
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