Tenho me questionado muito sobre isso: por que tantos homens se sentem ameaçados quando uma mulher exige os mesmos direitos que eles? É realmente tão difícil aceitar que podemos ocupar os mesmos espaços, seguir as mesmas carreiras, ter as mesmas oportunidades?
Como sabemos, o feminismo surgiu justamente como resposta a séculos de desigualdade e violência contra nós, mas, incrivelmente, parece ser mais combatido do que o próprio feminicídio.

É importante frisar que o feminicídio não é um fenômeno recente. Desde que o mundo é mundo, mulheres são mortas por desafiar padrões, por serem consideradas “rebeldes”, “indecentes” ou simplesmente por existirem. Durante a Idade Média, muitas foram queimadas vivas, acusadas de bruxaria. Ao longo dos séculos, a violência de gênero se manteve presente, mas era vista como “normal” ou mesmo “justificável”. Se uma mulher fosse assassinada pelo marido, muitas vezes a culpa recaía sobre ela, como se tivesse provocado a própria morte. E o mais revoltante é perceber que, em pleno século XXI, esse pensamento ainda persiste em muitos setores da sociedade.

No Brasil, a luta das mulheres por direitos começou a ganhar força no início do século XX. Em 1910, foi criado o Partido Republicano Feminino, que lutava pelo direito ao voto. Foi apenas em 1932 que finalmente conquistamos esse direito, algo básico e essencial em qualquer democracia. Mas a batalha estava longe de acabar. Ainda tivemos que lutar para ter direito ao divórcio, ao trabalho sem autorização do marido, a uma legislação contra a violência doméstica. A Lei Maria da Penha, por exemplo, só foi sancionada em 2006, após uma longa trajetória de dor e negligência do Estado com relação às vítimas.
E mesmo com leis avançadas, o feminicídio segue em números aterrorizantes. Em 2023, o Brasil registrou 1.463 casos de feminicídio, o maior número desde 2015. São 1,4 mulheres assassinadas por dia simplesmente por serem mulheres. Nos últimos dez anos, pelo menos 11.859 mulheres perderam suas vidas dessa forma. E tem mais, o Brasil ocupa a quinta posição no ranking mundial de violência contra a mulher. Os números deveriam chocar, gerar revolta, fazer com que todos saíssem às ruas exigindo mudança. Mas, ao invés disso, o que vemos? Críticas ferozes ao feminismo, ao mesmo tempo em que o feminicídio é tratado com indiferença.

Isso me leva a uma reflexão inevitável: por que o feminismo incomoda tanto? A resposta é clara. O feminismo desafia uma estrutura de poder que sempre favoreceu os homens. Ele questiona os papeis impostos, exige que a sociedade encare suas falhas e responsabilize os agressores. E muitos homens, especialmente aqueles que sempre estiveram confortáveis com seus privilégios, enxergam isso como uma ameaça. Eles têm medo de perder espaço, de serem confrontados com suas próprias atitudes e de terem que abrir mão dos benefícios que essa estrutura lhes proporciona.
A desinformação também é um fator crucial. O feminismo é muitas vezes retratado de forma distorcida, como se fosse um movimento contra os homens e não um movimento por igualdade. Quantas vezes já ouvimos frases como “as feministas querem privilégios”, “o feminismo atual está exagerado”, “homens também sofrem”? Tudo isso serve apenas para desviar o foco da verdadeira questão: a violência e desigualdade sistemática que as mulheres enfrentam diariamente.

O feminismo não é sobre superioridade feminina, mas sobre justiça. Não deveríamos ter que lutar por direitos básicos como segurança e respeito. Não deveríamos ter que provar que merecemos viver sem medo. O fato de que ainda precisamos discutir isso é um sintoma de uma sociedade doente.

A grande verdade é que lutar contra o feminismo é lutar contra a liberdade. Se você, homem, se incomoda com o feminismo, talvez seja a hora de se perguntar: por quê? O que tanto te assusta na igualdade? Se você não está fazendo nada de errado, por que teme um mundo onde mulheres têm os mesmos direitos que você? Pense nisso. Enquanto o feminicídio for um problema real e crescente, o feminismo nunca será exagero.
***Escrito por Andrezza Barros, jornalista e autora do livro “Porque Te Amo – E você nunca vai encontrar alguém que te ame como eu”
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