Em plena quarentena surge Titubá, uma produtora audiovisual formada apenas por mulheres. A Titubá Produções nasceu após o desenvolvimento do curta “Eu estou aqui – mas não queria”, lançado no último dia 8 de maio no YouTube. Um filme em formato de vídeo-poema que aborda de forma delicada uma realidade que atinge muitas mulheres: o abuso.
“Escrevi o texto em que percebi que precisava romper com silêncio há muito tempo guardado e ao me aproximar e ouvir as histórias de outras mulheres encontrei relatos semelhantes. Surgiu então, a necessidade de compartilhar o texto com o máximo de pessoas possível, aproximar as palavras e as vivências para que mais mulheres se encontrem e se apoiem… Esse processo de produção foi tão enriquecedor que percebemos que não deveríamos parar ali“, conta a roteirista do filme que deu origem à Titubá Produções, Jéssica Andrade.
A produtora provém da busca por desenvolver projetos autorais que façam com que as espectadoras se identifiquem, compondo as narrativas a partir dos olhares divergentes de mulheres com diferentes talentos trabalhando para criar um espaço próprio de expressão artística. É pensando nessa multiplicidade e união que a produtora baseia seus pilares: empoderamento, sororidade, acolhimento, segurança e reconhecimento, trazendo um olhar sensível e ao mesmo tempo potente, como os olhos de Tituba, considerada a primeira bruxa negra de Salém.
Como o projeto foi gerado por mulheres, a escolha do nome veio de forma natural, conjunta e poderosamente representada por TITUBA, mulher enigmática e sábia, que foi acusada e se declarou réu-confesso no famoso julgamento das Bruxas de Salém, mas com astúcia e inteligência conseguiu reverter o veredito que a levaria à fogueira e ser inocentada. Através do entendimento sobre a história de Tituba, veio a certeza de que seria o nome perfeito para representar esse trabalho.
“A Titubá busca desenvolver projetos artísticos que façam com que os espectadores se identifiquem e que de alguma forma, essa mensagem possa ajudar o próximo”, diz a fotógrafa e editora do projeto, Gabriela Rodrigues.
Assumindo seu papel, a produtora criada em Curitiba no Paraná, luta por seu espaço enquanto mulheres que produzem conteúdo cultural, brindando às referências femininas históricas criminalizadas por serem mulheres e por serem livres – as bruxas de Salém. “A maioria das produtoras de filmes (ou de qualquer coisa rs) são comandadas por homens e tem equipes com poucas mulheres ou nenhuma. Nós trazemos outra linguagem, outras ideias, a nossa visão”, expresa a artista de som, Isabela Café.
A junção de mulheres, e apenas mulheres, para produzi-lo gerou uma grande rede de apoio, onde todos os encontros para ensaio, pré-produção, gravação e finalização era também um espaço libertador para compartilhamento de histórias pessoais e cotidianas de abusos, silenciamentos, dores, de espinhos quase invisíveis.
“A Titubá pra mim é mais que um trabalho, é a minha ligação com pessoas incríveis e positivas que fazem com que me sinta sempre capaz de conquistar muitas coisas além da arte”, acrescenta a produtora, Fabiana Milhas.
O filme e todo o seu processo de produção traz a semântica da cura e da representatividade. De uma mulher se enxergando na outra e se reconhecendo em cada fala. A cada frase, mais nítido fica o entendimento que é possível romper o ciclo de violência e criar uma corrente de apoio mútuo.
“Os vários encontros em alguns projetos audiovisuais entre nós e as experiências compartilhadas a partir deles fizeram óbvia a necessidade de nós, enquanto mulheres, assumirmos o controle de nossas próprias histórias e dos nossos próprios jeitos de contá-las… A produtora então fica representada pela identidade latina, não branca e astuta, que consegue, com sua sabedoria, dobrar uma sociedade tosca e moralista (muito parecida com a nossa)”, expressa a diretora e produtora, Nathalia Tsiflidis.
É de toda essa força vinda de Tituba que Gabriela Rodrigues, Jéssica Andrade, Fabiana Milhas, Isabela Café e Nathalia Tsiflidis buscam o ímpeto para seu trabalho. Uma reunião de mulheres tomando decisões, pensando juntas, movendo uma ideologia, e produzindo arte, o que há 328 anos atrás seria certamente um caminho para a fogueira, hoje traz a ressignificação de que isso é, de fato, motivo de orgulho.
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