Com a intenção de compartilhar canções inéditas e regravações que compõem sua trajetória artística, o músico, carioca de nascimento e paulistano de coração, conceitua o experimento musical semanal que, até o momento, conta com 17 faixas disponibilizadas nas plataformas de streaming e em seu canal de YouTube, a caminho das 52 canções que ao final celebram sua carreira. O projeto Ouro Velho do cantor, compositor, produtor musical e publicitário Thomas Roth tem ganhado novos capítulos em 2022.
O quarto mês de Ouro Velho teve início com a regravação de “Canção de Verão”, uma parceria com o compositor Luiz Guedes, que na atual versão traz a contribuição dos músicos Léo Ramos, vocalista e guitarrista da Supercombo, e Isa Salles – que juntos formam a dupla Scatolove. Já “Milagre do Amor”, originalmente criada com a colaboração de Guedes, desta vez chega na voz de Thomas para propor sentimentos de esperança, expectativa de sonhos e enaltecimento do amor, temáticas cada vez mais em ebulição no cenário atual. Confira a entrevista!
Atualmente você está com um projeto que compõe sua trajetória artística. Cada canção que você interpreta tem um significado para que elas tenham entrado nesse projeto. Em geral, como foi o processo de escolha? E diante das músicas que você já lançou, como você vê a reação do público quanto a sua forma de interpretar cada uma dessas melodias?
Em verdade, sem querer parecer pretensioso, preciso começar dizendo que o Projeto não compõem de forma “completa”, minha trajetória artística. Teve muita coisa que ficou de fora* e que “faz falta” rsrsrsrs. Mas, sim, o Projeto “Ouro Velho” é um bom retrato das minhas composições e meus caminhos criativos. Parte (24 regravações) foi escolhida porque eu senti necessidade de mostrar (informar) às pessoas que “aquelas músicas que elas já conheciam na voz de outros artistas” eram composições minhas. Infelizmente, a imagem de jurado, pela força do veículo TV, acabou se sobressaindo muito e eu senti, então, necessidade de colocar essas músicas, quase que como um “cartão de apresentação”. E 28 são canções inéditas, cujo foco é mostrar que eu “tô vivo”, atuante, produzindo, criando, mais ativo que nunca. Como eu havia estabelecido esse número (52), pra comemorar meus anos de carreira musical, não tive como colocar tudo o que eu gostaria.
A escolha foi: um pouco, considerando o que eu já tinha pronto, gravado; um pouco, o que eu já havia planejado gravar há algum tempo (inéditas e conhecidas) e, um pouco, o que eu tinha acabado composto mais recentemente e que considerei relevante / importante mostrar neste momento.
A reação tem sido incrível, maravilhosa. Tenho recebido retornos comoventes, sublimes. E tem, também, uma minúscula (5/6) porção de pessoas que me “zoa” dizendo clichês e chavões dos programas de jurados, tais como: “hoje você não foi bem. VERMELHO pra você.” Ou: “não gostei. Pra mim, hoje é NÃO!”. E assim por diante. Mas eu levo na esportiva, sempre respondo numa boa, dizendo que “vou me esforçar pra ver se da próxima vez você me dá uma nota melhor” e na quase totalidade essas pessoas passaram a dialogar comigo numa boa. Digo isso porque faço um esforço hercúleo pra responder a todo mundo. Mas está ficando cada dia mais difícil, porque, no final das contas, meu Insta (é basicamente a rede que eu uso, além do Youtube) está crescendo e nem sempre consigo responder. Mas, sempre que possível respondo, converso, ouço o que me mandam, dou minhas opiniões, minhas sugestões. E, tenho recebido muuuuuito carinho. Isso tem sido muuuito gratificante. E, nestes tempos, desde o lançamento, já acabei fazendo muitas e grandes “amizades virtuais”.
* eu compus muita música pra criança, fiz vários álbuns infantis, dos quais tenho muito orgulho, mas não achei que cabiam aqui neste projeto, por ex.
A música pode ser definida de várias formas para cada um de nós. Como um artista, qual a importância de se transmitir música para as pessoas?
Tem gente que faz pra ganhar dinheiro (custe o que custar). Tem gente que faz porque tem necessidade de ficar famoso/a, conhecido/a. Tem gente que faz por hobby, por prazer. Tem gente que faz música pelas mais diversas razões. Eu faço porque, em primeiro lugar isso já estava no DNA da família. E, tive um pai que me estimulou a seguir na música, ao perceber que eu tinha vocação. Mas, a minha “formação” se deu através da observação e do fato de eu ter tido a oportunidade, ao longo dos anos, de trabalhar e conviver com gente muuuuuito foda. Gente que frequentava minha casa, como Amilson Godoy, Zimbo Trio, Johnny Alf; gente com quem tive a oportunidade de trabalhar/conversar, como Sergio Augusto, Cesar Mariano, Elis Regina e principalmente, Walter Silva, o “Pica-pau”, jornalista, radialista, crítico musical, produtor musical, a quem devo muuuuito!
Foi Walter Silva quem, ouvindo minhas músicas, nos anos 70, me disse: “Thomas, suas músicas são lindas, muito poéticas, quase líricas. MAS nós vivemos em plena ditadura!! E o papel do compositor, do artista, não é apenas entreter, alegrar, encantar, o público. É COLOCAR O DEDO NA FERIDA! É CONSCIENTIZAR! QUESTIONAR!!”. Aquilo calou muito fundo na minha alma. Na verdade, eu acordei, naquele momento pra entender a força da comunicação que uma música PODE e DEVE ter. Porque ele me fez pensar, refletir e começar a entender o que é que, de fato, a música fazia, ou podia fazer na vida das pessoas. E, com o tempo fui percebendo, também, o sentido da palavra EMOÇÃO. E entendendo que música é EMOÇÃO. Seja pela letra política, seja pela letra poética, pela beleza plástica do arranjo, da melodia, da interpretação, e assim por diante.
Hoje em dia, o que se vê na grande mídia, em sua imensa maioria, são músicas mais pra “mexer o corpo”, pra fazer a dancinha no TikTok, letras fáceis, de teor pobre, conteúdo chulo, sem grandes arroubos de inteligência ou virtuosismo”. Mas essa é apenas a “ponta visível” do grande iceberg da música. Tem muuuuita coisa linda, importante, bem feita, bem pensada, bem produzida.
Mas, enfim, hoje eu faço música, em priemiro lugar PRA MIM MESMO. Pra que eu consiga sobreviver neste mundo louco, selvagem, insano. É através da música que eu faço a minha catarse, minha terapia. E, pelo retorno que eu tenho recebido, muita gente se emociona com minhas letras, minhas melodias…O que me deixa muuuito feliz e oxigena os pulmões da minha existência.
Finalizando, eu diria que “a importância de se transmitir música para as pessoas” é que ela nos conecta. Nos aproxima, nos identifica.
Para chegar a esse projeto, você contou com a contribuição de muitas pessoas durante o caminho. Como cada uma dessas pessoas agregaram neste trabalho?
Putz, se eu for enumerar, vai longe rsrsrsrs. Começa com meu pai, dando força para um garoto seguir a carreira de música, numa época onde vc, “pra ser alguma coisa que prestasse, na vida, tinha que ser advogado, engenheiro ou médico”. Muita gente amiga, com quem tive a oportunidade de trabalhar, músicos, produtores, cantores/as, insistia para que eu fizesse meu álbum…Minhas filhas, sempre cobravam para fazer…Minha esposa, Melissa, me deu muuuita força para que eu me dedicasse efetivamente ao projeto. Além da equipe técnica atual da Lua Nova (meu estúdio), dos técnicos que mixaram, masterizaram, contei com um timaço de 11 produtores musicais, que me ajudaram a produzir, fizeram os arranjos instrumentais, tocaram, a saber:
. Teco Fuchs, Keco Brandão, Fred Benuce, Fernando Forni, Paulo Vaz, Leo Ramos, Edu Filgueira, Iza Molinari, André Siqueira, Reinaldo Barriga, Rodrigo Laguna. E ainda estou conversando com Jaloo e com Julio Moschen, pra fechar duas faixas que faltam pra deixar tudo pronto. Isso, sem falar nos compositores:
. Luiz Guedes, Luiz Carlos Sá, Ronaldo Bastos, Teco Fuchs, Marcio Borges, Paulo Flexa, Hilton Raw, Sergio Moura, Cido Bianchi, Carlos Castelo, Murilo Antunes, José Carlos Costa Netto, Arnaldo Saccomani e Ricardo Furriel.
Em uma visão geral de sua carreira, como você define a trajetória de Thomas Roth até aqui?
Eu sempre fui um “operário da música”. Sei que essa imagem é meio óbvia, mas é verdade. Sempre trabalhei muuuito. Desde o final dos anos 60 eu já vivia de música. Entrei nos anos 70 dando aulas de violão, participando de festivais. Em 73 entrei num estúdio de publicidade e comecei a ganhar dinheiro compondo/tocando/cantando jingles, trilhas. A partir, paralelamente eu participava, também de festivais, de gravações de discos como cantor de coro, como músico, cedendo músicas para serem gravadas por terceiros e a coisa foi gradativamente crescendo, aumentando. Daí pra frente, nunca mais parei. Em 75 Elis gravou minha música “Quero”, no Falso Brilhante, o que deu um impulso importante na minha carreira. Ainda em meados dos 70, comecei (além do que eu já descrevi) a participar de programas de TV para quem estava “começando”. Em 80 virei, também, apresentador (Programa Olimpop, na TV Tupi).
Ainda neste ano, fui pra estrada, fazendo dupla com Luiz Guedes. Minha parceria com Luiz rendeu dezenas e dezenas de músicas que foram gravadas por dezenas de artistas, de Elis a Angela Maria, de Roupa Nova a Gilliard, de Beto Guedes a Tavito, Jane Duboc, Ronnie Von, dentre muitos outros. Daí houve um período em que separamos a dupla. Continuei compondo muito, vez em quando alguma música minha era gravada, tema de novela, trabalhando, sempre, como eu disse em publicidade, até que em 98 montei o selo Lua Discos (depois Lua Music), onde lancei 440 álbuns em 14 anos. Uma insanidade.
Em 2005 virei jurado do Ídolos, no SBT. Daí pra frente, fiquei 14 anos na TV, como jurado de diversos programas. Na paralela, sempre fazendo publicidade, compondo, colocando uma música aqui, outra ali…Hoje sou sócio de uma empresa de gestão de carreiras e negócios artísticos, a Elemess; da Lua Nova, produtora de áudio para publicidade e conteúdo (longas, séries, documentários); e sou Diretor Musical da Dramaturgia do SBT. Resumindo, minha carreira foi feita de muito aprendizado, muito “exercitar”, dia a dia, de muitos “erros e acertos”. Mas a vida foi generosa comigo porque sempre surgiram oportunidades incríveis na minha vida. Elis ter gravado “Quero” em 75 foi uma delas. Eu ter conhecido Walter Silva e ter participado dos programas dele na Record e na Band, outra.
Ter ido pra TV Tupi em 80 e apresentado o Olimpop, também. Ter conhecido Luiz Guedes e termos formado uma dupla de sucesso, mais uma. Eu ter ido pro Ídolos, foi mais uma oportunidade imensa! E, agora, estar na direção musical das novelas do SBT, uma experiência completamente nova, pra mim, mais uma incrível experiência. Por isso, agradeço, todos os dias.
O projeto Ouro Velho irá trazer de volta versões de músicas que pautaram sua carreira até o momento. Como está sendo passar por essa retrospectiva?
Uma experiência única e muito gratificante. (Re)abrir as gavetas foi muito legal! É um reencontro com meu passado, com muitas memórias, muitas passagens, muitos momentos. Ao abrir este baú, revi canções das quais eu nem me lembrava mais. E constatei que eu criei muito mais músicas do que eu imaginava/lembrava. E menos do que eu gostaria rsrsrsrsrs. Perdi muuuito tempo na vida dedicando mais tempo à publicidade do que à música, efetivamente. Mas, não me arrependo de nada. Só quero MAIS. Não quero perder tempo. Tenho muito mais a mostrar.
A criar, produzir, escrever, nunca me senti tão estimulado. Principalmente porque sinto que, hoje, tenho mais domínio sobre o que estou fazendo, mais segurança. Por mais que eu adore “deixar a música me levar”, quando componho, por ex, eu “sei o que estou fazendo”. Mesmo sendo uma “viagem no escuro”, um mergulho na imensidão.
Ao todo, a sua carreira já está rumo a 52 canções. Quais foram suas maiores inspirações na música?
As primeiras canções que eu criei, foram coisas mais aleatórias. Uma fiz observando a natureza após a chuva, outra inspirada nos meus sonhos de garoto de ver/viver um mundo sem guerras, sem poluição, mais fraterno (“Quero”). Daí fiz uma música que chama-se “Manchetes”, que fala das tragédias diárias que estampam as manchetes dos jornais. Mas, durante uns bons anos eu compunha sempre na 3ª pessoa. Por alguma razão eu não falava na 1ª pessoa. Isso, inclusive quando comecei a compor com Luiz Guedes. “Nova Estação”, gravada por nós, depois por Elis, é um exemplo disso. Nossa 1ª canção, “Como Nunca”, também gravada por nós, depois por Beto Guedes, são exemplos disso. Cachoeira, sucesso com Ronnie Von, idem. “Depois é que, pouco a pouco, começamos a falar na 1ª pessoa, como em “Canção de Verão” que foi sucesso na voz do Roupa Nova. Mas, uma das coisas que me fizeram “acordar” ainda mais pra isso, foi um dia em que conversávamos com Isolda, com quem tínhamos acabado de fazer uma parceria. Isolda, compositora super consagrada, autora de grandes sucessos gravados por Roberto Carlos.
Um de nós perguntou: “Isolda, qual é, na sua opinião, o segredo do sucesso das tuas músicas? Ela respondeu: “não tem segredo nenhum. Eu não faço ficção. Tudo que eu escrevo, eu falo de mim. Das minhas angústias, das minhas mágoas, minhas “dores de corno”, minhas saudades, eu falo de mim. E acho que quando eu falo de mim, estou falando das pessoas e elas se identificam. Afinal, todos nós sentimos as mesmas emoções, não é verdade?” Putz, aquilo foi um tapa na orelha!! CLARO!! Óbvio!! A partir dali senti mais coragem pra compor na 1ª pessoa e hoje, praticamente TODAS as minhas canções são na 1ª pessoa e mostram meu olhar, minha opinião sobre alguma faceta da vida. Mesmo quando escrevo “ficções”, elas são, majoritariamente, fundamentadas em experiências vividas.
Mas além deste aspecto, algumas coisas marcaram bem minhas/nossas composições. No final dos anos 70 e no começo dos anos 80 a falta de liberdade era um ponto que nos incomodava muito. Tanto que “Nova Estação”, “Canção de Verão”, entre outras, foram canções feitas para celebrar os primeiros sinais de abertura que se desenhavam no horizonte. “Extra”, “Jornal do Planeta, eram músicas onde usávamos as notícias de jornal pra falar:
“Extra, deu no jornal da manhã
Que algo estranho está no ar
De novo, a velha anedota
A mesma farsa q
Querem o último raio de sol
Que mora em em nossos jardins
E brinca em nossos quintais…”
Ou
“…Mas nossa esperança
Paga pra ver
Ainda que demore
O tempo que for..”
Mas, concluindo, sempre colocávamos um viés positivo, de esperança. Essa era uma coisa quase monotônica nossa. Éramos definitivamente otimistas. Não temos e não tenho canções catastróficas, pessimistas, negativas. AINDA não. Ainda sou o cara que enxerga o copo “meio cheio”. Confesso, entretanto, que estou, pouco a pouco me decepcionando – cada vez mais – com o Brasil, com o ser humano.
Eu compus nestes últimos anos, algumas canções bem tristes. Mas, sinceramente, não quero entrar numa deprê. Se eu perder as esperanças, se eu “entregar os pontos”…putz, não gosto nem de pensar no “final desta canção”.
Sobre a música “Deixa eu ser teu sol”, você revelou que admite sua fragilidade perante ao aprisionamento dos grilhões que cobram para que sejamos invencíveis, infalíveis e termos sucesso a qualquer custo. Como surgiu esse pensamento?
Através das várias “derrotas” que eu tive na vida, quer na vida profissional, quer na vida pessoal. Eu sou casado pela 3ª vez. Fiquei casado quase 18 anos com a minha 1ª mulher, quase 18 anos com a 2ª, e 9 com a 3ª. Não faltaram, nestes anos todos, “discussão sobre a relação”. E, claro, nem sempre eu estava certo. Nem sempre estava errado. Mas, chega uma hora que vc cansa de brigar.
Que você sabe das tuas fraquezas, limitações, defeitos, manias. E você conclui que é preferível reconhecer, abrir o jogo e dizer “sou assim e sou assado”. Na verdade essa música, é uma declaração de amor. E, uma confissão aberta:
“Sei que eu não sou a luz
Porém não sou, também, a escuridão, não
Eu sou apenas alguém
Nem bom, nem ruim
Sou o melhor e o pior de mim”
O que podemos esperar de sua carreira ainda para esse ano?
Sinceramente, se eu tivesse tempo e dinheiro, faria a 2ª edição rsrsrsrsrs
Tenho muita coisa já criada. Antiga e nova. Mas a novela (Poliana Moça) tem consumido muito do meu tempo. Exige muuuita dedicação. Além disso, preciso cuidar da Lua Nova, fazer minha parte na Elemess, enfim, muuuita coisa pra fazer.
Planos? Projetos? Tenho VÁRIOS, MUITOS. Mas não gostaria de ser imprudente, fazer um spoiler e depois não cumprir. Aliás, essa é outra coisa que o tempo me ensinou. A não falar de algo que depois pode não se realizar. Eu falei muitas vezes: “Vou fazer X…”. “Quero fazer Y…”. E depois não rolou. Não faço mais isso. É isso.
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