Marco Vincit está lançando seu primeiro álbum – “Rosas Amarelas – Vol.1&2”. Apesar de ele se definir como uma pessoa tímida e retraída, “Rosas Amarelas: Uma História de Quase Amor Baseada em Fatos Surreais”, já nas plataformas digitais, é ousado e ambicioso em sua proposta musical. Em primeiro lugar, por ser um álbum duplo, de 20 faixas, um lançamento um tanto incomum numa época em que os artistas parecem acomodados na dinâmica de lançar canções soltas nas plataformas. “Eu estava preocupado com o álbum, especialmente pela questão de as pessoas pararem para ouvir 20 faixas”, conta o cantor e compositor que cria um som que mescla gêneros para emoldurar letras surpreendentes.
Os ingredientes das letras, de romantismo derramado: amor, tesão, drama, orgasmos, despedidas, sarcasmo e gin tônica. Há uma influência discreta do Caetano dos anos 1980, quando Marco quebra a linearidade lógica do verso com uma palavra que parecia não caber ali, ao mesmo tempo que faz referências diretas à série britânica de streaming “Fleabag”. Marco afirma que nada disso é por acaso. “Eu gosto de compositores que fazem jogos de palavras. Elas parecem meio jogadas, tudo meio bobo, inocente, cru, mas para quem tem atenção às sutilezas, funciona. Eu gosto de trabalhar sutilezas. Eu tenho problemas de métrica, e de texto, às vezes a palavra ali não era muito boa, mas eu fiz questão de manter. Eu tenho essa pilha de causar uma estranheza, eu gosto disso.”
Nascido em Brumadinho, Marco tocava trompete e estudou no Palácio das Artes, aprendendo música e design. “Um belo dia eu tive que optar pelo design, que já me dava grana e é algo que eu gosto muito. Eu tinha passado no vestibular da Universidade do Estado para estudar música, mas não fiz. Ficou desgastante, eu não ganhava dinheiro com música. Aí eu me mudei para Belo Horizonte, para me dedicar exclusivamente ao design”.
Agora radicado em São Paulo, ele entendeu que não faria sentido gravar seu primeiro álbum na capital paulista. A escolha de ir para Belo Horizonte foi uma questão afetiva. Falou mais alto a amizade com músicos mineiros, principalmente o baixista Felipe Fantoni, que coproduziu o álbum com ele e toca em todas as faixas. Foi para Fantoni que o compositor enviou 20 textos, que ele chamava de “histórias”, que se transformariam nas letras de “Rosas Amarelas”.
Marco interrompeu o trabalho de designer por três meses, para ir a Belo Horizonte e pensar no disco todos os dias. Ele admite uma preocupação em ser organizado no que faz, reflexo da atividade no design. “A primeira coisa que pensei foi o título. Eu tinha meio o projeto todo pensado e escrito. Daí veio a ideia de reorganizar aquelas ideias em forma de capítulos. A gente pegava uma música e achava que tinha cara de forró. Tentava fazer um forró e saía outra coisa, claro. Felipe dizia que tal história era bem anos 1970, então por que não ir atrás de um som daquela década?.”
Com a decisão de gravar 20 músicas, veio o desafio de organizar como elas seriam distribuídas no disco. “Antes, as minhas músicas eram muito melancólicas. Pareciam músicas maduras demais para quem escreveu, mas agora eu estou escrevendo de um jeito mais adolescente. A paixão tem essa coisa adolescente, de viver aquilo, de arder, de achar que aquela é a última pessoa do mundo, E isso é péssimo quando a pessoa te abandona do nada. Sintomas do nosso tempo.”
Pensando no disco como um vinil duplo, embora por enquanto o lançamento seja apenas digital, cada lado representa uma das quatro estações. Mas Marco identificou que o trabalho se referia a um único verão apaixonado. Ele classifica São Paulo como um personagem central nas histórias, e acredita que o verão na cidade contém as quatro estações. “Vivi uma paixão rápida e fiz esse discão. Eu me separei de um namoro de muito tempo, e de repente me senti como se tivesse 20 anos, apaixonado de novo. Então trabalhar no disco me pareceu um pouco desenvolver as quatro estações da paixão. Acho que é um disco que fala muito das relações atuais, com a interferência das redes sociais.”
A ansiedade começou a tomar conta do artista. “Estava muito à vontade ao escrever e cantar aquelas coisas num ambiente controlado, mas pensar em mandar para o mundo ouvir era algo bem diferente. Fiquei doente com as redes sociais. Fui ficando refém de rede social, chegou um momento em que eu abria o Instagram e ficava ali, me sabotando, não fazendo o que tinha para resolver no disco.” Depois de muitas tentativas sem sucesso, ele conseguiu ficar meses longe das redes. Nesse período, ele conseguiu trabalhar na parte visual do disco.
Todo o visual, incluindo fotos e vídeos, foi criado com o uso de Inteligência Artificial a partir de um ensaio fotográfico feito pelo fotógrafo e amigo Will de Carvalho, acompanhado de sua equipe de beleza. Nesse ensaio, Marco utilizou o look criado pelo artista visual brasileiro e estilista catarinense Jay Boggo, conhecido por produzir peças artesanais e em pequena escala.
Mais uma vez, Marco incorpora a subversão em seu trabalho ao partir de um único look original e gerar, através da Inteligência Artificial, uma infinidade de novos visuais. Esses novos looks carregam referências visuais e estilísticas do look inicial, mas agora multiplicados em larga escala, mas que nunca existiram. São criadas imagens de lugares e situações nas quais Marco nunca esteve, dialogando com todo o conceito e trazendo inovação estética e conceitual. “Aí veio uma certa estranheza em algumas imagens, e eu comecei a relacionar essa estranheza visual da IA com a estranheza das minhas letras. O que de cada imagem é real? O que das minhas letras é real?.”
Assim, estabelecida essa relação, ficou ainda mais singular esse disco incomum, feito com vários parâmetros que ninguém está seguindo. As canções vão de um R&B elegante, bem anos 1970, a baladas românticas intercaladas com músicas agitadas, para cima. Logo em seu primeiro trabalho de fôlego, Marco conseguiu equilibrar a melancolia e as canções solares, com ironia e humorácido. Há vários hits em potencial, como “Bonezinho Vermelho”, “Boy”, “Jesuíno Brilhante” ou a faixa que encerra o disco e inevitavelmente chama a atenção pelo título: “Vai Se Fuder”.
Marco Vincit é assim. Metódico e caótico, tímido e apaixonado, bem-humorado e melancólico. O público tem agora um discão para descobrir todas essas facetas do artista.
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