A internet brasileira foi tomada pela repercussão de dois eventos marcantes na última terça-feira (28): a megaoperação policial no Rio de Janeiro, que resultou na morte de mais de 120 pessoas, e a “oficialização” do namoro entre o jogador de futebol Vinícius Júnior e a influenciadora digital Virgínia Fonseca. Um levantamento feito pela doutora em Marketing e coordenadora do Centro de Estudos em Marketing Digital da FGV/EAESP, Lilian Carvalho, mostrou que, em menos de 24 horas, a operação gerou 43 mil menções nas redes sociais, enquanto, no mesmo período, o post sobre o romance teve mais de 11 milhões de curtidas e o tema movimentou a internet com mais de 44 mil menções. Para a pesquisadora, esse engajamento maior sobre um assunto de menor importância coletiva revela um “paradoxo algorítmico da atenção”.
“O primeiro questionamento que surge é se não deveríamos, como cidadãos, estar mais preocupados com a segurança dos cariocas e as mortes no Complexo do Alemão. Porém, os algoritmos das redes sociais favorecem conteúdo que gera engajamento emocional imediato, e a fofoca sobre celebridades oferece gratificação instantânea, enquanto a tragédia social exige reflexão moral e implicação política. A lógica da viralização financia a indignação e o choque, como venho demonstrando em minhas pesquisas sobre algoritmos e bolhas comportamentais”, afirma.
Carvalho avalia que “a arquitetura digital molda o que vemos, o que importa e, em última instância, quem somos como sociedade”.
Banalização da morte
No caso da megaoperação policial, o levantamento analisou, ainda, o teor das menções ao tema sendo 67% neutras e 27% negativas. O que mais chama a atenção, segundo Lilian, é o que ela classificou como “normalização algorítmica da barbárie”, já que diversas postagens incluíram imagens explícitas dos corpos e um sentimento de satisfação.
“O sentimento predominante foi medo ou nojo, com 22% das menções cada, mas um número significativo de 11% expressou alegria diante da violência. A experiência contemporânea comprova que os algoritmos não têm lado, mas reproduzem e exacerbam aquilo que há de mais barulhento e emocional em cada bolha”, revela.
Os termos mais citados, de acordo com o levantamento, incluíram “Complexos do Alemão e da Penha”, “CV”, “segurança pública”, “Operação Contenção”, “Polícia Militar”, “crime organizado” e “facções criminosas”. O governador do Estado, Cláudio Castro, teve quase 10% do total de menções, o que pode significar apoio por parte destes internautas que demonstraram alegria com a ação policial.
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