Mormasiento leva poesia afro-indígena e resistência à fronteira sul

Por Andrezza Barros • 22 out 2025
Mormasiento leva poesia afro-indígena e resistência à fronteira sul
​Poeta uruguaio Andrés Rivero - crédito: Juliana Freitas

O escritor afro-indígena Andrés Rivero lança seu novo livro Mormasiento (Independente, 2025, 92 págs., R$ 40) neste domingo, 26 de outubro de 2025, às 16h, na Livraria Macun (Rua Octávio Corrêa, nº 67 – Cidade Baixa, Porto Alegre). A obra chega como um grito poético vindo da fronteira, atravessando as margens entre o Uruguai e o Brasil com a força de uma língua viva: o portuñol.

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O evento contará com sessão de autógrafos, roda de conversa e poesia, convidando o público a sentir de perto a pulsação da fronteira. Os exemplares estarão à venda no local e também pelo Instagram do autor, @rivero.arte.

Mormasiento reúne versos e narrativas que emergem da oralidade e da vida cotidiana nas periferias fronteiriças, revelando identidades historicamente silenciadas. Nos poemas de Rivero, ecoam tambores, afetos, memórias e resistências — a voz de um povo que constrói sua história na mistura de línguas, culturas e saberes ancestrais.

“Eu nasci em um lugar onde as pessoas falavam assim desde o ventre, desde o colinho da mãe. Eu escuto essa forma de falar nas cantigas, nas histórias dos meus avós”, conta Rivero. “No meu bairro as pessoas falam misturado, brincam com as palavras, passam do espanhol ao português e às vezes inventam palavras”, completa.

Além do espanhol e do português, o autor entrelaça vocábulos de origem africana, guarani e charrua, resgatando suas raízes afro-indígenas. “As matanças dos povos originários foram sistemáticas, então as pessoas aprenderam a viver no silêncio. A minha mãe viu pessoas que foram escravizadas e a avó dela foi uma pessoa escravizada. Eu trato de perguntar, dentro e fora da minha família, e vou armando minha história e minhas poesias”, explica o artista.

Rivero, que também atuou como educador nas periferias da fronteira, afirma que foi nesses espaços que aprendeu o verdadeiro sentido da poesia: “resistir, compartilhar e cuidar”. Entre cheiros de cozinha e batuques, escreveu os 70 poemas do livro ao longo de anos, entre viagens, encontros e despedidas.

O título Mormasiento nasce do corpo e da escuta — uma fusão de mormaço, cansaço e sentimento. “Este livro é, antes de tudo, um gesto de resistência, um modo de afirmar que a poesia também mora nos cantos esquecidos, nas línguas cruzadas, nas histórias que o vento conta”, resume Rivero.

Publicação independente com apoio da Incubadora Fronteira Criativa, Mormasiento é uma obra crua, afetiva e profundamente enraizada no território, celebrando o poder da palavra como instrumento de afirmação e pertencimento.

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