“Um lugar sem problemas. Acha que existe um lugar assim, Totó?”, quem não se lembra dessas falas e associa o nome do cachorrinho companheiro de Dorothy a ela? Exatamente pessoal, no último dia 10 de junho, a celebre atriz Judy Garland que ganhou fama em clássicos como “The Wizard Of Oz” (1939) e “Nasce Uma Estrela” (1954) completaria exatos 100 anos de idade, e nada melhor do que essa ocasião para prestarmos uma homenagem de alto nível a estrela.
Para essa questão, o autor e diretor Flavio Marinho escalou ninguém mais que Luciana Braga para se a estrela do musical “Judy – O Arco íris é Aqui” que está em cartaz no Teatro Vannucci na Gávea. O musical acaba por conseguir mesclar bastante a vida de Garland junto as experiências de Luciana Braga, fundindo assim a histórias de duas celebres estrelas da história do teatro. Confira a entrevista!
Recentemente o público cinéfilo e cultural celebrou os 100 anos da atriz Judy Garland e nessa homenagem você está representando ela na peça biográfica “Judy – O Arco íris é Aqui”. Como tem sido representá-la nos palcos e qual considera ser a sua importância cultural atualmente?
Fazer Judy Garland tem sido um grande prazer e um imenso desafio. Seu talento extraordinário como cantora e atriz é impossível de reproduzir. O que faço é uma grande homenagem, recontando sua vida atribulada e fazendo um paralelo com minha própria vida.
O inteligente texto de Flávio Marinho se utiliza do paralelo entre a vida dessa artista fenomenal e a minha para aproximar tudo o que se passou com ela da nossa realidade. O resultado é muito rico e cria imensa cumplicidade com a plateia, que reflete sobre os altos e baixos da vida de artista, que talvez, afinal, não seja tão diferente da vida de qualquer um de nós.
Desde os anos de 1930 quando Garland estourou em Hollywood através do clássico “O Mágico de Oz” do diretor Victor Fleming, diversas histórias de bastidores horríveis vieram a tona, em Garland teria passado por uso abusivo de drogas além de assédios que prejudicaram durante toda sua vida. Essas características todas a tornam uma personagem desafiadora?
Sem dúvida nenhuma, Judy Garland é uma personagem imensamente desafiadora. Por seu talento fora do comum, sua vida atormentada e, principalmente, por ser uma pessoa real e já largamente retratada. Mas não há intenção de mimetizar Judy Garland. O que faço é evocar sua imagem. Posso dizer que faço a “minha” Judy.
O musical de vocês estreou no início do mês de junho no dia 10, e logo chamou bastante atenção do público e da mídia. Como considera a importância desse projeto para sua carreira e como foram suas expectativas para o espetáculo?
Hesitei muito em fazer essa personagem, por todos os motivos já citados. Mas, por outro lado, depois de 37 anos de carreira, achei que era chegada a hora de encarar um novo desafio. Então dei o salto, obviamente depois de muita preparação. A expectativa sempre foi a de um espetáculo de grande comunicação com o público e que tocasse o coração das pessoas. Acho que estamos conseguindo.
Uma das canções que você chegou a performar durante sua apresentação foi a clássica “Over The Rainbow” – canção imortalizada em “O Mágico de Oz” e que inclusive recebeu o Oscar Juvenil na época. Você chegou a fazer um estudo ou uma preparação sonora para essa música que se tornou tão icônica nesses últimos 83 anos desde o lançamento do filme?
Fiz uma intensa preparação para fazer “Judy”. Foram quase dois anos de intensas aulas de canto com o mestre Felipe Abreu, que, além de ser um professor de canto excepcional, é um profundo conhecedor da vida e obra de Judy Garland. Foi um mergulho!
Falando em filmes e premiações, além do musical de vocês, a atriz Renée Zellweger foi amplamente ovacionada pelo público ao vivê-la no filme “Judy – Muito Além do Arco-íris”. Você chegou a nutrir alguma opinião sobre essas outras apresentações bibliográficas, que inclusive chegou a ser repudiada pela filha de Judy – Liza Minnelli?
Adoro o filme com Renée! E a série “A vida com Judy Garland: eu e minhas sombras”, com a atriz Judy Davis é maravilhosa. A queixa de Liza Minnelli sobre o filme diz respeito ao recorte escolhido, que conta apenas um momento trágico de sua vida, fazendo parecer que Judy era apenas sombras. Liza adora falar sobre a alegria de sua mãe. Pois em nosso espetáculo trazemos isso à cena: a peça fala de seus altos e baixos mas é recheada com momentos de muito humor e diversão.
Por mais que a sua história seja bastante conturbada, Judy Garland é inegavelmente um grande ícone e referência nas artes cênicas, em que além de Oz, foi premiada e aclamada por muitos da indústria cinematográfica, você ainda acredita que ela seja um modelo para as gerações de artistas de hoje?
Esses dias uma jovenzinha de 16 anos foi nos assistir e revelou ser uma grande fã de Judy Garland! Minha filha de 20 só tem escutado Judy, desde que estreei. Quando há qualidade num trabalho artístico ele pode se perpetuar e influenciar muitas gerações, basta apelar para a memória. Esse é o nosso trabalho.
Se hoje as mulheres já são infelizmente vítimas do machismo, nas décadas de antigamente esse problema era ainda maior, até porque a evolução e os direitos só foram ganhando voz com o passar dos tempos. Com Judy não foi diferente, pois durante a produção de Oz, foi revelado que ela teria sido assediada pelos atores que interpretavam os Munchkins. Você conseguiria imaginar realmente como seria viver a experiência que ela teve nos bastidores na época?
Iniciei minha vida profissional há quase 40 anos e te afirmo que algumas vezes passei por situações que hoje já seriam mais difíceis de acontecer…Portanto, posso sim, imaginar como seria viver as experiências que Judy teve nos bastidores. Acho que qualquer mulher pode, ainda hoje. O mundo vem evoluindo, mas os passos ainda são lentos. E miúdos. Mas a gente chega lá!
Para finalizarmos, depois dessa experiência que você passou na produção deste espetáculo: você acredita que há muito além do arco-íris para ser falado ainda?
O arco-íris é aqui! É só correr para o Teatro Vanucci para ver esse arco-íris bem de perto.
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