Cantora, compositora, atriz, produtora e poeta. A paulistana Lara Kadocsa faz de sua arte um reflexo de sua evolução pessoal e busca por conexões. Unindo MPB, jazz e samba, a artista lança seu álbum de estreia “ar” junto de um livro de poesias de mesmo nome. O disco está disponível em todas as plataformas de música digital.
Presença regular como vocalista na roda de samba Os Compandeiros, Lara tem uma história com arte em múltiplas frentes. Em 2019, ela desenvolveu junto com Anna Kobzareva o espetáculo “nós-outras”. Lara traz experiência nos palcos em peças como “O que mais você quer de mim” (dir. Fernando Nitsch), “Pedaço de Mim” (dir. Bernando de Gregorio Lynch) e “O dragão dourado” (dir. Dagoberto Feliz), além de trabalhar com iniciativas com projetos acadêmicos no Brasil e na Alemanha. Boa parte do material criado para “ar” foi feito durante o período que a artista morou em Berlim, inclusive. Confira a entrevista!
Com a união do MPB, Jazz e Samba, você chegou ao álbum de estreia denominado “Ar”, além de um livro com o mesmo nome. Quais foram as inspirações para esse projeto?
“ar” é um projeto que foi surgindo ao longo dos anos e acredito que vai continuar reverberando por algum tempo, pelo menos em mim. Isto porque a mensagem dele me é muita cara: a de sempre voltar para aquilo que de fato importa. O ato de respirar nos traz de volta para o nosso corpo, para o momento presente. Só quando estamos de fato presentes, conseguimos enxergar as coisas com clareza e ver que o essencial é aquilo que nos conecta com as pessoas ao nosso redor, com o ambiente que nos cerca, com aquilo que sentimos e que nos torna humanos. Acredito que as inspirações para o “ar” tenham sido exatamente os momentos em que estive desconectada do simples ato de ser, de estar, e, principalmente, quando percebi que muitas pessoas próximas também estavam.
Nos conte um pouco sobre a história de Lara Kadocsa.
Lara é, acima de tudo, sonhadora – e sonha que é possível unir todo mundo. Sei que é um sonho distante e irreal, mas gosto de entender como as pessoas pensam e sentem e conhecer porque agem de tal maneira. Acredito que através da arte esta observação e vontade de união se realizam da forma mais pura possível, por isso estou sempre estudando novos jeitos de tocar e me conectar com as pessoas. Fui entender isso bem depois de muita prática em dança, coral, teatro, poesia e, principalmente, música. Sempre gostei de tudo, mas fazia sem muito bem saber porquê. Hoje entendo que o que mais quero é resgatar/reanimar a sensação de que somos (e dependemos de) uma comunidade.
Você é cantora, compositora, atriz, produtora e poeta. Essas áreas se completam de algum modo? Qual a importância de se estar em várias vertentes enquanto artista?
Estou sempre buscando formas de unir as diferentes linguagens e as minhas diferentes experiências em cada uma delas exatamente porque todas se complementam. São formas distintas de expressão e o artista está sempre se expressando. Conhecer várias línguas te possibilita se conectar com várias pessoas. Não é diferente com as linguagens artísticas. Cada linguagem traz a sua riqueza e toca as pessoas em pontos diferentes. Vale experimentar: Como você lê uma poesia escrita à mão? E ao lado de uma fotografia? E ouvindo uma música ao fundo? Como as nossas experiências se amplificam quando damos atenção a todos os nossos sentidos? Como isso aumenta a sua escuta?
Seu álbum explora a simplicidade de se olhar mais para si e para o seu próximo. Em momento de pandemia, onde é tão necessário essa troca, você acredita que a canção irá tocar muitos corações?
Estamos em uma época em que ninguém tem tempo de escutar o outro, ninguém tem energia para escutar a si próprio. Esta falta de escuta leva à falta de diálogo que leva a extremismos e todos estamos percebendo para onde isto está caminhando. Tenho esse desejo sim de que a música toque muitas pessoas e as sensibilize.
Qual é a importância da música no geral para o ser humano?
O ser humano não existe sem a música. Não encontramos sociedades ou comunidades humanas sem música e se você conhecer alguém que não goste de música, por favor, me apresente. A música nos conecta com o que sentimos, nos une enquanto seres, e por isso é tão poderosa e presente em nossa história.
O que o seu álbum de estreia e o livro de poesia tem de diferenciado para que o público tenha interesse em ouvir/ver?
Acredito fortemente que só conseguiremos resgatar o diálogo através da escuta e que só conseguiremos resgatar a escuta quando respirarmos e tomarmos o tempo de sentir. Quando conseguirmos nos silenciar, ouvir nossas emoções, estar em paz com elas e com o silêncio, conseguiremos abrir e oferecer o espaço necessário para o outro. A ideia do projeto é proporcionar este momento de pausa-silêncio-escuta-conexão.
Além desse projeto, existe algum novo que esteja em mente ou pretende viver o momento atual para só depois pensar em algo novo?
Minha cabeça não para, todo dia surgem novas ideias e projetos. Estou (sempre) aprendendo, porém, a dar o tempo que cada um exige para conseguir organizá-los, selecioná-los, desenvolvê-los e, por fim, realizá-los. Então existem sim novas ideias – agora quando elas ficarão prontas é uma outra questão.
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