No Brasil, o Acidente Vascular Cerebral (AVC) segue entre as principais causas de morte e incapacidade. De acordo com o Ministério da Saúde, mais de 300 mil pessoas são hospitalizadas todos os anos por causa da doença, e cerca de 11 brasileiros morrem a cada hora em decorrência de um derrame. Embora os números impressionem, especialistas reforçam que grande parte desses casos poderia ser evitada com hábitos mais equilibrados — e a alimentação é um dos pilares dessa prevenção.
O que se come diariamente influencia diretamente a saúde do cérebro e do sistema circulatório. Refeições ricas em frutas, legumes, grãos integrais e gorduras boas ajudam a regular a pressão arterial e o colesterol, reduzindo a inflamação no organismo. Já o consumo frequente de ultraprocessados, bebidas adoçadas, frituras e carnes processadas está entre os principais gatilhos para doenças cardiovasculares e cerebrovasculares.
A boa notícia é que prevenir o AVC não depende de dietas caras nem de grandes restrições. Pequenas mudanças — como beber mais água, reduzir o sal, substituir frituras por grelhados e variar o cardápio com alimentos da estação — já representam avanços significativos para quem busca cuidar da saúde do coração e do cérebro.
Para aprofundar o tema, conversamos com a nutricionista Gianna Rosa, especialista em nutrição clínica e oncológica que atua na área hospitalar. Ela explica, de forma prática, como o equilíbrio alimentar pode ser determinante tanto na prevenção quanto na reabilitação de quem já enfrentou um episódio de AVC. Confira:
A alimentação tem papel direto na prevenção do AVC. Quais nutrientes e hábitos alimentares são mais importantes para manter a saúde cerebral e cardiovascular?
A alimentação tem um papel fundamental quando a gente pensa na prevenção de várias doenças, inclusive a questão do AVC, porque ela vai estar influenciando tanto no controle da pressão arterial, do colesterol e da glicemia. Quando a gente pensa numa alimentação saudável, seria o quê? A gente comer com regularidade, a gente tem que evitar a questão de jejum, não significa que a gente precisa comer de três em três horas, mas a gente tem que ter uma alimentação equilibrada. Uma alimentação equilibrada que a gente preconiza os alimentos que são naturais e evitando os processados. Então, a ideia da gente descascar mais e desembalar menos é fundamental para a gente ter uma alimentação saudável, bem como a questão da hidratação. Além disso, a gente precisa também pensar no consumo regular de antioxidantes, como vitamina C, E e compostos que estão presentes em frutas coloridas, por exemplo, nas gorduras boas, como abacate, azeite, peixes ricos em ômega. Também na questão do consumo regular de fibras, que ajudam na função intestinal, reduzem o colesterol e ajudam a equilibrar a nossa glicemia.
O excesso de sal, açúcar e gorduras ruins está entre os principais vilões. Como esses alimentos agem no organismo até culminar em um possível AVC?
O sal, o açúcar e as gorduras estão, sim, como os principais vilões quando a gente pensa na questão do AVC. Isso porque o açúcar, querendo ou não, vai aumentar os triglicerídeos, ele aumenta a questão da resistência à insulina e prejudica o metabolismo do nosso organismo. Então, ele atrapalha muito a saúde vascular. As gorduras trans e as gorduras saturadas formam placas de gordura, que é a aterosclerose, e isso pode influenciar na questão do fluxo sanguíneo. Pode ocorrer o bloqueio do fluxo sanguíneo para o cérebro, por exemplo. E o sal, o sódio, eleva a pressão arterial, o que força a circulação e pode levar ao rompimento ou entupimento das artérias.
Muitos brasileiros ainda acreditam que “comer bem” é caro. É possível montar uma dieta preventiva com opções simples e acessíveis do dia a dia?
Ainda existe a ideia de que comer bem é caro, mas a verdade é que comer bem significa a gente ir mais à feira do que ao mercado. Em que sentido? Procurar alimentos naturais. E procurar alimentos naturais é pensar em alimentos que estão dentro da estação. Então, a gente não precisa estar consumindo abacate o ano todo porque ele tem gordura boa — podemos usar as frutas da estação, que vão ter os nutrientes adequados para aquele período. O arroz e o feijão funcionam muito bem, assim como frutas e verduras da época. Quando pensamos nas proteínas, não é preciso consumir as carnes mais caras, mais nobres. Pelo contrário: basta tirar a pele do frango, a gordura da carne e diminuir o consumo de frituras. Carnes cozidas e grelhadas são mais saudáveis. O azeite não precisa ser usado em tudo — não é porque é extravirgem que é saudável 100%. Ele deve ser utilizado em pequenas quantidades ao longo do dia. E isso acaba não encarecendo a refeição. Planejar e variar: acredito que esse é o segredo.
As dietas da moda, como low carb ou cetogênica, podem ajudar ou prejudicar quem quer reduzir o risco de AVC?
As dietas da moda precisam de muito cuidado na hora de serem utilizadas. Toda estratégia nutricional é válida, desde que seja acompanhada e individualizada. Não é todo mundo que pode fazer dieta cetogênica, jejum intermitente ou low carb. É preciso pensar na rotina da pessoa, no objetivo, na saúde e em vários outros fatores. Quando a gente pensa numa dieta cetogênica, por exemplo, há aumento de gordura — então é preciso avaliar o colesterol dessa pessoa. Na low carb, é importante considerar o tipo de atividade física. Uma pessoa que faz muita atividade de endurance não deve fazer low carb. No caso do jejum intermitente, é essencial ver como está a massa magra, o tempo de jejum e como será a quebra. Fazer jejum de 12 horas e depois comer um hambúrguer, ao meu ver, não é o recomendado. Essas estratégias precisam ser aplicadas de forma individualizada e sempre com acompanhamento do nutricionista.
O consumo de álcool e o tabagismo potencializam o risco cardiovascular. Existe uma “dose segura” ou a recomendação é evitar totalmente?
Não existe uma dose recomendada em relação ao consumo de álcool e tabagismo. Eles podem, sim, aumentar a pressão arterial, o risco de arritmias e danificar os vasos sanguíneos. O recomendado é não consumir bebida alcoólica nem fumar.
Alimentos anti-inflamatórios e antioxidantes, como frutas vermelhas, azeite e peixes ricos em ômega-3, são apontados como protetores. O que a ciência já comprova sobre isso?
Existem evidências científicas que mostram que alimentos anti-inflamatórios e antioxidantes fazem diferença na prevenção e no tratamento de diversas doenças. Um exemplo disso é o ômega-3, que ajuda a reduzir inflamações e evita a formação de coágulos. Também as frutas vermelhas, ricas em antocianinas, têm efeito protetor para o nosso cérebro. São, de fato, alimentos que ajudam a manter nossa circulação e o fluxo mais eficiente.

O controle do peso corporal e da gordura abdominal é um fator essencial. Como o excesso de gordura no corpo pode interferir na circulação e favorecer o AVC?
Antigamente se pensava muito no IMC como indicador de peso ideal. Hoje sabemos que o mais importante é a composição corporal, que vai além da estética. Ela mostra se estamos em síndrome metabólica ou não, especialmente ao observar a circunferência abdominal. Se ela estiver dentro do ideal, é possível reduzir até 30% o risco de AVC. Quando pensamos em composição corporal, falamos do percentual de gordura em relação à massa magra. A gordura favorece a formação de placas nas artérias, aumenta a pressão e a resistência à insulina. Por isso, é essencial manter o equilíbrio e acompanhar de perto esses índices.
Após um AVC, a alimentação também precisa mudar. Quais ajustes nutricionais são fundamentais na reabilitação e na prevenção de novos episódios?
Sim, a alimentação depois de um AVC pode ter alterações. É importante avaliar como ficou a deglutição da pessoa, bem como a necessidade de repor alguns nutrientes. Devemos priorizar a quantidade adequada de proteínas e alimentos anti-inflamatórios e antioxidantes. Essa dieta precisa ser planejada considerando a consistência dos alimentos, quando há dificuldades para engolir e as necessidades nutricionais do paciente após o AVC.
5 passos práticos para proteger o cérebro pela alimentação
1. Descasque mais, desembale menos
Prefira alimentos naturais e minimamente processados — frutas, legumes, verduras e grãos integrais devem estar sempre à mesa.
2. Reduza o sal e o açúcar
Evite temperos prontos, refrigerantes, doces e ultraprocessados. Essas escolhas silenciosamente aumentam a pressão e inflamam os vasos sanguíneos.
3. Hidrate-se ao longo do dia
A água mantém a circulação adequada e ajuda o corpo a eliminar toxinas, prevenindo oscilações de pressão e glicemia.
4. Invista em gorduras boas e antioxidantes
Inclua azeite, abacate, castanhas e peixes ricos em ômega-3, além de frutas coloridas — elas ajudam a combater inflamações e proteger o cérebro.
5. Mantenha o peso e a rotina equilibrados
Evite dietas extremas e longos períodos de jejum. Alimentar-se bem, dormir o suficiente e praticar atividade física regular formam o trio essencial contra o AVC.

Descubra mais sobre Andrezza Barros
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.




Você precisa fazer login para comentar.