
Com uma voz serena, Ana Lúcia Menezes, é atriz, dubladora e diretora de dublagem brasileira com grandes personagens em sua bagagem. Tendo sido indicada duas vezes ao Prêmio Yamato, o Oscar da Dublagem.
A mesma já deu voz a personagens como Alexander “Alex” Katsopolis em Três é demais; Alice dos filmes Alice no país das maravilhas e Alice através do espelho; Aria Montgomery da série Pretty Little Liars; Branca de Neve no Shrek Terceiro; Charisse Dolittle em Dr. Dolittle 2; Chloe Sweeney no filme O preço da traição; Dulce Maria em Carinha de anjo; Ester em A Orfã; Irmã Irene no filme A freira; Jesse Quick da série The Flash; Lupita na novela mexicana Rebelde; Murta que Geme da franquia Harry Potter; Po em Teletubbies; Sam de iCarly e Sam & Cat; Suzy do desenho Peppa Pig; Thea Queen na série Arrow; Laura em Carrossel; entre muitos outros.
Recebeu em 2004 o prêmio de melhor Dubladora e Melhor Dubladora Coadjuvante em 2005. No ano de 2010 recebeu o Prêmio Yamato de Melhor Dubladora de Anime, como a Misa Amane, de Death Note. Mãe da também dubladora Bia Menezes, é filha do mixador de filmes Raymundo Grangeiro de Menezes. Confira a entrevista exclusiva:
Oi Ana Lúcia, agradeço que tenha aceitado participar desta entrevista. Como surgiu esse amor pela dublagem? Nos conte um pouco do seu início.
“Comecei a dublar em 88. Dia primeiro de fevereiro de 1988 foi assinada a minha carteira de trabalho. A princípio, senhor Herbert colocou um anúncio no jornal convocando crianças para aprenderem a dublar, pagando um salário mínimo na época, mas não apareceu ninguém. Como ele sabia que meu pai tinha sete filhos, meu pai era um mixador e trabalhava com ele. Então, ele pediu para o meu pai levar os sete, mas não houve interesse dos meus irmãos. Só meu e de uma irmã que depois desistiu e hoje é uma arquiteta (risos)”.
Muitas pessoas não gostam de assistir seu próprio trabalho depois de pronto por vergonha. Como você reage? Gosta de ver o resultado ?
“Quanto a vergonha de assistir meu trabalho, não tenho vergonha (risos). Sou sem vergonha Andrezza (risos), não tenho vergonha não. No início, há 32 anos atrás, às vezes ficava meio tímida, não gostava muito da minha voz. A gente acha meio estranha né, escutar gravado é um pouquinho diferente, mas eu não tenho vergonha não. Gosto de ver, sou muito crítica, fico vendo no que errei, o que podia melhorar, o que gostei. Não tenho problema em relação a isso não”.
Como tem sido essa nova adaptação da dublagem em meio a quarentena?
“Essa nova adaptação em meio a quarentena tem sido bem desafiadora. A gravação remota é bem diferente da presencial, exige um movimento diferente na hora do posicionamento do rosto, do olhar… A questão de dividir numa tela do computador, o vídeo e o texto também é bem desafiador para mim. Eu vi alguns desafios! No início, quando entrei, dublava com todo mundo junto, era um desafio. Depois tirou todo mundo do estúdio, passamos a dublar sozinhos, e foi um grande desafio para mim. E no terceiro grande desafio, é agora a gravação remota. Mas a gente tem que se adaptar, se não a gente fica para trás né. Então vamos lá, desafios é com a gente”.
Apesar de já ter dublado personagens maravilhosos, existe algum que você ainda não deu voz, mas gostaria muito ?
“Não, não tem nenhum personagem que eu não dublei e gostaria de dublar. Não tem nenhum assim não, já até me fizeram essa pergunta outras vezes”.
Quais são as maiores dificuldades para dar voz a um personagem?
“As maiores dificuldades, agora eu não sei. No início era muito difícil, você tem que dublar, interpretar, tem que ler, tem que pensar rápido. Sincronismo, dicção, é bem complicadinho. Hoje em dia, acho que é mais essa coisa de pegar o movimento certinho da boca do personagem, fazer com excelência, para que fique totalmente uma versão brasileira mesmo. Que a pessoa nem perceba que aquilo ali foi dublado”.
Você acha mais fácil dublar uma criança ou um adulto? Existe alguma preparação diferente ?
“A criança ou adulto, já acostumei fazer os dois. Agora nós temos bastante crianças, o mercado está com bastante crianças. Mas assim, não está exigindo tanto. A criança exige mais de você mudar, fazer colocação da voz, que aí força um pouquinho mais. E a gente tem um preparo vocal, procura aquecer. Tenho uma fono, a Doutora Cristiane Magacho que me acompanha e tem que ter, porque se não você se machuca. Logo no início, eu descobri uma fenda quando eu estava com uns 22 anos, dublo desde os 13. De colocar mal voz, chegar oito horas da manhã fazendo gritinho superfino, fazendo vozinha né, você acaba se machucando”.
Tendo passado o amor da dublagem para sua filha Bia Menezes, como se sente em saber que ela segue os mesmos passos que o seu?
“Fico muito orgulhosa da Bia Menezes. Muito orgulhosa mesmo, porque foi tudo tão desafiador para ela né. E ela fez das pedrinhas dela um castelo. Um lindo castelo! Orgulho! Orgulho de Mamis que falo (risos). Eu tenho muito orgulho dela, é muito dedicada sabe, muito determinada, tem muito foco. Orgulho!”.
Alice Kingsleigh, Aria Montgomery, Lupita e Po do Teletubbies são alguns dos meus personagens preferidos dublados por você. De todos, qual é o que considera mais especial?
“Considero todos especiais, ainda tem mais aí (risos). Tem uns que viram xodozinho da gente, que a gente gosta. Eu gosto muito também da Sam do iCarly, Sam&Cat. Gosto da Maite Perroni, gosto muito da Rory de Gilmore Girls que é a Alexis Bledel. Tem um monte, sou suspeita (risos). Eu gosto também da Laura do Carrossel, era uma gordinha que eu fazia muitos anos. Tem muito personagem que marca assim, que marcaram né”.
Dublando tantas vozes infantis como a Suzy do desenho Peppa Pig; Trixie Tang em Os Padrinhos Mágicos; entre outros. Quando está na rua, as crianças chegam a identificar sua voz? Ou até mesmo adultos?
“O que acontece às vezes é que as pessoas falam, ‘eu te conheço de algum lugar’, mas na verdade não te conhecem, conhecem sua voz. Daí você pensa ‘nossa minha memória é horrível’. As vezes eu fico achando que estudei com a pessoa, aí eu pergunto ‘onde você estudou?’. Ai fico perguntando para ver se bate com as escolas que estudei. Quando vejo eu falo, ‘olha, eu trabalho com dublagem’, ai a pessoa ‘é isso, é isso’, e vai e reconhece. Não é muito comum não, mas já teve uma vez que eu cheguei no shopping bem distante da minha casa e a moça disse, ‘você não faz dublagem?’. Ela viu uma matéria que passou no SBT, uma matéria de Rebelde, aí ela reconheceu”.
Tem algum personagem que se arrependeu de fazer? E algum que você dublou e adoraria reprisar?
“Não, não tem nenhum que eu tenha me arrependido de fazer não. E que eu gosto que reprise, tem tantos que reprisa, mas tem um que acho muito fofo. Aquele filme ‘O Meu Primeiro Amor’, esse filme toda vez que passa, acho que ele mexe de alguma forma com todo mundo. Até por falar mesmo de amor, da inocência, da infância. Acho lindo esse filme, eu amo”.
Deixe uma mensagem ao público.
“Queria agradecer né! A todos vocês pelo carinho. Isso faz muita diferença para gente. A gente sente de verdade o amor que as pessoas sentem pela gente, o carinho. Isso é muito importante, ainda mais diante desse mundo tão desafiador, o mundo que tem tanta gente egoísta, individualista, tanta gente que quer o mal do outro. É bem chocante, eu me choco com muitas coisas do mundo sabe, e somente posso pedir que Deus recompense o carinho que eles nos dão. Que Deus abençoe eles grandemente, e é isso (risos). Isso é muito importante pra gente, quando a gente faz, ele que recebem o produto, então temos que fazer bem feito, senão eles gritam (risos)”.
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