Desde março, o mundo parou após ser decretada a pandemia causada pela Covid-19, dando um novo significado ao mundo. Apesar disso, o novo álbum, intitulado como “Só”, da cantora Adriana Calcanhotto, conta com canções sobre a quarentena e mostra que a arte traz revolução ao tempo e espaço.
O álbum foi gravado e mixado em 43 dias, entre 27 de março e 8 de maio. Processo diferente se comparado com “Margem”, trabalho anterior de Adriana, lançado em 2019. “Em onze dias eu tinha trinta minutos de música. É um álbum em estado bruto”, diz a cantora e compositora.
Mas não confunda com um disco feito às pressas. “Só” é fruto de um método tão novo para Adriana quanto adaptado ao que o mundo se tornou com a proliferação da Covid-19. Ela foi impedida de voltar para Coimbra, em Portugal, onde leciona e é embaixadora da universidade que carrega o nome da cidade. No Rio de Janeiro, seu relógio artístico passou a despertá-la todos os dias com o desafio de compor uma música até a hora do almoço. “Como se tivesse a missão de fazer pão todos os dias. Mas não sei fazer pães, só sei fazer canções”.
O sentido é completo pela temática das músicas, pela ordem cronológica de composição em que as nove faixas formam o repertório do disco e pela forma em que foi arranjado, gravado e produzido, entre São Paulo, Rio, Belém, Salvador, Orlando e Tóquio. Cada faixa, aliás, terá renda revertida para instituição escolhida pela artista.
Quem encabeçou a produção, junto a Adriana, foi o compositor Arthur Nogueira. Ela já havia feito um trabalho de pré-produção em casa, sozinha, cantando sobre bases que apontavam as intenções iniciais das músicas. A partir disso, Nogueira propôs novos caminhos, moldou a sonoridade junto ao núcleo criativo com STRR – pronuncia-se “star” e Leo Chaves, que atuaram como instrumentistas, arranjadores e engenheiros de som.
Os três são de Belém e ajudaram na convocação da seleção indicada por Adriana e Andrea Franco, sua empresária e produtora executiva do álbum. Seleção que incluiu Allen Alencar (guitarra), Zé Manoel (piano), Diogo Gomes (sopros), Bruno di Lullo (violão), Rafael Rocha (percussão), Bem Gil (violão), Thomas Harres (bateria e percussão) e Chibatinha (guitarra). A diferença, para todos, é que cada um teria que realizar seu trabalho respeitando o isolamento. E assim foi.
“SÓ” começa com “Ninguém na Rua”, título igualmente que dispensa esclarecimento, em MPB amparada em batida funk que Adriana extrai do violão. “Era Só” é baseada em dois vértices – um treinamento de rimas que ela realizava pela Internet que ganhou mais vida com inserção de piano de Zé Manoel. O beat sintetizado ganhou contornos jazzísticos.
Nessa cadência, vieram na sequência “Eu Vi Você Sambar”, sobre uma certa guitarrada paraense. “O Que Temos”, que viaja pelo trip hop, jazz e um certo afoxé. “Sol Quadrado”, curta como um samba-repente em seu 1 minuto e 45 segundos. E “Tive Notícias Suas”, a traduzir as trombetas do noticiário em arranjos de metais acompanhados de violão, percussão e voz.
“Lembrando da Estrada” trata da saudade de tudo o que deixamos para trás no isolamento em clima road trip. “Bunda Lê Lê” reverte a face brincalhona de Adriana em parceria com Dennis DJ em seu funk. “Corre o Munda”, é poética e bela como seu nome, que homenageia a denominação original do rio Mondego, que corta Coimbra.
Junto ao álbum, Adriana lançará sob a direção de Murilo Alvesso a versão audiovisual de “Só” em um grande clipe-sequência de todas as músicas registradas no quarto da artista. “Com todo o cuidado na gravação”, faz questão de garantir o fotógrafo e diretor.
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