Uma história sobre como o dinheiro e o patriarcado manda e desmanda por todo o planeta terra, e o feminismo se torna um ato de vergonha para quem desconhece o significado real da luta feminista (Caso Daniel Alves)
Texto escrito por: Andrezza Barros
Passei alguns dias pensando em como voltaria a escrever alguns textos de opinião aqui no site, mas nada do que escrevi foi suficiente. Até que, acordei com uma notícia que me inspirou. Não uma boa notícia, muito ao contrário. A notícia sobre o jogador Daniel Alves que teve a possibilidade de pagar um milhão para ser solto e teve ajuda do pai do Neymar (e do próprio Neymar, obviamente), me fez decidir estar aqui, em choque escrevendo esse texto..
“Resumidamente, o caso só nos faz ter uma certeza: você pode cometer qualquer crime, desde que seja homem e tenha dinheiro para pagar a fiança.”
Vi muitos comentários “mas o Neymar é amigo dele, amigo ajuda o outro” ou então “ele cometeu um erro e o amigo está apenas ajudando, você não ajudaria seu amigo?”. Gente! É importante frisar que todos nós cometemos erros na nossa vida, mas existe uma grande diferença entre cometer um erro e cometer um crime.
Explicando melhor para quem estiver lendo:
“Cometer um erro se refere a tomar uma decisão ou realizar uma ação que resulta em um resultado indesejado, mas não necessariamente ilegal. Cometer um crime, por outro lado, implica em violar uma lei estabelecida pela sociedade, podendo resultar em punições legais. Enquanto um erro pode ser uma falha pessoal ou profissional, um crime é uma transgressão legal sujeita a julgamento e possível condenação.”
Ajudar alguém que cometeu um crime é no mínimo um ato questionável de ética, não acha?
Levando para o lado da justiça: com quem ficará este dinheiro?
É inaceitável como o dinheiro pode comprar impunidade, mesmo diante de crimes graves. O caso de Daniel Alves é apenas mais um exemplo gritante de como a riqueza pode abrir portas e até mesmo libertar da prisão aqueles que deveriam estar atrás das grades. Essa realidade é um tapa na cara da justiça, evidenciando como os poderosos podem se safar de suas responsabilidades. Questiono o sistema que permite essa injustiça flagrante. Até quando o saldo bancário valerá mais do que a integridade de uma pessoa?
Com tudo isso, vamos para um outro debate… vale a pena denunciar uma violência?
“Às vezes não vale a pena denunciar um crime (é o que a maioria das mulheres pensam e essa história só prova que é real).”
Quando uma mulher demora para denunciar e então aparece denunciando, o que mais ouvimos é “por que não denunciou antes?” Se tivesse denunciado antes, acha mesmo que teria adiantado? Este caso mostra que não, por isso muitas mulheres acabam não denunciando a violência e é compreensível. O que você faria se denunciasse um crime e mesmo com todas as provas, ele fosse solto apenas por ser um homem rico?
Ou quando denunciam após o ato, sempre tem um que diz “mas estava em lugar X, estava com roupa Y, então queria que isso acontecesse”. Ouvi muito durante a história do Daniel Alves “se estava na boate, é porque queria alguma coisa”. Claro, com certeza você vai a um lugar em busca de alguém tocar seu corpo sem a sua permissão. Ao menos, na cabeça de uns isso faz sentido… Mas não de nós mulheres! (Pelo menos não as que entendem que ninguém deve tocar seu corpo sem sua permissão). “Mas ela quis ir ao banheiro com ele.” Ela quis ir ao banheiro, mas ela tem o direito de desistir. O ato de beijar alguém, não significa que você quer transar com a pessoa. Tem uma linha bem diferente nos dois aspectos. Você transa com toda pessoa que beija?
“E é por esses pensamentos que muitas mulheres não denunciam.”
O medo de não serem levadas a sério pela justiça e pela sociedade é uma preocupação legítima para muitas mulheres que sofrem violência. O patriarcado cria um ambiente onde as vozes das mulheres muitas vezes não são valorizadas ou são desacreditadas, o que pode desencorajar ainda mais as vítimas de denunciar. O patriarcado estabelece uma estrutura social onde o poder e a autoridade são predominantemente exercidos por homens, e isso pode levar à desvalorização das experiências e vozes das mulheres. Essa dinâmica pode resultar em um ambiente onde as mulheres se sentem desencorajadas a denunciar casos de violência, temendo não serem levadas a sério ou enfrentarem repercussões negativas.
“Quando as mulheres desacreditam outras mulheres que denunciam violência, isso é o resultado da influência do patriarcado dentro do próprio âmbito feminino.”
O patriarcado é um sistema de poder que privilegia os homens em detrimento das mulheres, e suas estruturas podem se manifestar não apenas através das instituições sociais, mas também dentro das interações cotidianas entre mulheres.
Mulheres que desacreditam vítimas de violência podem estar internalizando os padrões patriarcais que minimizam a experiência das mulheres, colocando a culpa nelas mesmas, questionando sua credibilidade ou perpetuando a ideia de que a violência é algo normal ou inevitável. Essas atitudes podem ser influenciadas por anos de socialização em um sistema que desvaloriza a voz e a autonomia das mulheres, levando-as a duvidar umas das outras em vez de se unirem em solidariedade.
“É preciso reconhecer que a luta contra a violência de gênero não é apenas contra os homens, mas também contra as estruturas patriarcais que permeiam todas as esferas da sociedade, incluindo as interações entre mulheres.”
Quando uma mulher inferioriza o feminismo, pode ser resultado de uma série de fatores, incluindo a internalização de estereótipos de gênero, falta de compreensão sobre os objetivos do feminismo, experiências pessoais que não refletem as lutas enfrentadas por outras mulheres e até mesmo influência de discursos anti-feministas presentes na sociedade.
O movimento não busca aniquilar os homens como já ouvi muitas vezes, mas o de promover a igualdade de gênero e combater a opressão e discriminação baseadas no gênero (como é o próprio caso refletido na violência sexual cometida pelo Daniel Alves).
Diante do caso de Daniel Alves, é revoltante perceber como a justiça pode ser influenciada pelo dinheiro e pelo poder. A história expõe não só a impunidade para os privilegiados, mas também a difícil batalha enfrentada pelas mulheres que ousam denunciar violência. O patriarcado, enraizado em nossa sociedade, continua a desvalorizar as vozes femininas e a perpetuar a desconfiança entre mulheres. É crucial compreender que a luta feminista não visa apenas responsabilizar indivíduos, mas sim desmantelar estruturas de opressão que permeiam todos os aspectos de nossas vidas. É hora de nos unirmos em solidariedade, desafiando o status quo e promovendo uma verdadeira igualdade de gênero.
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