Com 26 anos, o ator Bernardo de Assis é um dos destaques da trama de “Salve-se Quem Puder”, das 19h, na TV Globo. Carioca, nascido no bairro de Inhaúma, zona norte do Rio, ele vive o office boy Catatau, que é apaixonado por Renatinha (Juliana Alves). O mais interessante é ver que o personagem, assim como Bernardo, é um homem trans.
Além da novela “Salve-se Quem Puder”, quem curte o trabalho de Bernardo de Assis pode vê-lo também no seriado ‘Transviar’, da Eparrêi Filmes, na TV Cultura, onde ele é o protagonista. Na TV fechada, ele integra o elenco da série “Nós” e “Noturnos”, ambas foram exibidas no Canal Brasil (e agora nos streamings do Globoplay e Canais Globo), a última dirigida por Caetano Gotardo e Marco Dutra, e na produção da HBO “Todxs Nós”, dirigida por Vera Egito e Daniel Ribeiro, todas lançadas no ano de 2020. Confira a entrevista:
Atualmente você faz o office boy Catatau na trama “Salve-se Quem Puder” da TV Globo. Como é fazer esse personagem e contracenar ao lado da querida Juliana Alves que dá vida a Renatinha?
Catatau é meu primeiro personagem em novela e foi muito especial interpretá-lo. Com ele, tive inúmeros aprendizados e pude conhecer artistas incríveis, que é o caso da Juliana. Tivemos muitas conversas e trocas, tanto em cena quanto fora dela. E esse companheirismo foi essencial para Catatau e Renatinha.
Assim como seu personagem, você é um homem trans. Como é estar representando os trans? E qual é o sentimento em um mundo tão preconceituoso em que vivemos, estar em rede nacional fazendo um papel tão representativo que pode incentivar tantas pessoas?
Com certeza é uma grande responsabilidade e reconheço a importância de ter um corpo como o meu em rede nacional. Não vou dizer que é fácil, precisei lidar com muitas coisas dolorosas. Mas sei que é preciso passar por tudo isso para que num futuro próximo, outras pessoas trans tenham mais respeito e oportunidades.
Todo artista pega um pouco de si e coloca em seu personagem. O que você tem em comum com o Catatau?
O jeito leve de ver e viver a vida.
Tendo voltado a gravar no segundo semestre do ano passado, como foi reiniciar com todas as restrições por conta da pandemia?
Foram muitos protocolos que demandavam atenção e cuidado. Foi um grande desafio, sem dúvidas. Precisei aprender um novo jeito de atuar. Mas a união das equipes e elenco foi tão grande que todos nós nos ajudávamos, foi um período de muita união e carinho.
Nos fale um pouco sobre quem é Bernardo de Assis e o que te levou a seguir a carreira artística.
Eu sou um aquariano do subúrbio do Rio de Janeiro que, no momento em que pisou no teatro pela primeira vez, já soube que faria aquilo da vida. Foi por conta da arte que eu pude me descobrir enquanto pessoa.
Tocando novamente no assunto da transexualidade, atualmente, muitos atores como o próprio Paulo Gustavo e a americana Bella Thorne, estão agindo fortemente para defender a comunidade LGBTQIA+. Como é a sua admiração a partir dessas atitudes e o que você acha que precisa ser aprendido por aqueles que ainda praticam um ato tão obsoleto mas também infelizmente presente como os preconceitos?
É extremamente importante que artistas se posicionem, já que muitas vezes é através da mídia que temos o primeiro contato com pessoas LGBTQIA+. Nossa luta agora é fazer com que essas referências sejam de fato representativas. Que possamos contar outras histórias para além da dor e violência de nossos corpos. O preconceito perde força quando informamos e naturalizamos nossas existências.
Não sei se chegou ao seu conhecimento, mais aqui na cidade de Niterói (RJ), tivemos no meio do mês de março desse ano um ataque à uma vereadora transexual durante uma assembleia na câmera dos vereadores. Diante de tantos relatos e denúncias que vem crescendo cada vez mais, você acredita que é possível ter outras orientações sexuais e não estar sujeito aos preconceitos?
Infelizmente o Brasil é o país que mais mata pessoas LGBTI+ no mundo, mas graças aos movimentos sociais e coletivos, estamos cada vez mais conquistando uma série de direitos. É importante compreender que certos corpos irão sofrer sim, mais preconceitos. Afinal, além da LGBTfobia, nós lidamos com o machismo, racismo, misoginia e tantas outras formas de opressão. Por isso, se faz urgente não nos escondermos mais. Nossos corpos podem incomodar, mas isso diz muito mais sobre quem se incomoda do que sobre nós.
Uma questão que eu gostaria de finalizar a entrevista te perguntando é: o artista naturalmente, ele vive da arte ou ele vive para a arte? Como é a sua entrega e como ela transformou quem você era antes de conhecê-la?
O artista pode viver da arte e viver para a arte. Mas no meu caso, estou vivo por conta dela. Foi graças ao teatro que tive forças para ser quem eu sou. E é no meu fazer artístico que consigo lidar com minhas alegrias e minhas dores.
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