Resgatando a década de 1950 para as novas gerações, o duo Banana Scrait apresentou um objetivo muito audacioso em seu mais recente EP — “Eletro Bossa Nova”. Clássicos de nomes marcantes como Tom Jobim, Baden Powell, Vinicius de Moraes e Luiz Bonfá são revisitados e apresentados em estilos musicais que vão desde a eletrônica, house, lounge music ao funk.
Formado pela dupla Andrea Agda e Daniel Arruda, o projeto já vem crescendo a 30 anos e entra em uma nova fase onde caminhar para o futuro não necessariamente os fazem se desligar de suas raízes musicais. Com seu primeiro lançamento no ano de 1995, a dupla realizou lançamentos em 2001, e após um grande período de hiato, retornaram ao sucesso em 2015. Confira a entrevista!
Com quase 30 anos de trajetória musical do Banana Scrait, quais foram as maiores mudanças do início até os dias atuais?
Foram muitas mudanças… as maiores em relação à formação da banda e ao estilo musical, pois no início era guitarra, baixo e bateria e mais nada, inclusive em algumas músicas a gente se revezava. Nessa época o Daniel que tocou sempre sax encarou o baixo e tinha algumas músicas que até eu cheguei a tocar bateria. O som era o rock básico do início dos anos 90, com muita influência de bandas como: Elastica, Belly, The Breeders, Pulp, Sleeper.
A essência está no álbum “Yes, we have bananas!” lá dentro a gente colocou a fita demo também, que saiu pelo selo Midsummer madness e foi muito elogiada em vários zines. Esse disco não está nas plataformas, mas pode ser encontrado no nosso site. E também o temos em CD físico, algo que está meio em extinção.
O novo álbum completo já está disponível em todas as plataformas de streaming. Como tem sido a recepção do público com essas canções?
A recepção tem sido ótima, ficamos muito inseguros no começo do projeto, pois sempre fomos acostumados a lançar trabalhos autorais, a gente não sabia nem mesmo se iríamos conseguir as autorizações quando começamos esse projeto… mas foi tudo dando certo e já recebemos elogios até de Daniel Jobim, as pessoas estão curtindo e agora que estamos começando a sair mais das tocas temos tido ótimo feedback.
A música é um instrumento indispensável para a vida humana por diversos fatores. Em sua visão como músico, como seria a vida sem a música?
Engraçado essa pergunta, pois naquela linha básica do meu Instagram @andreaagda tem escrito exatamente isso: A vida sem música seria um erro. Acredito que essa frase é do Nietzsche. Então eu concordo com ele: seria um erro, um grande vazio, uma tristeza.
Banana Scrait se propôs a transpor canções icônicas da bossa para uma linguagem contemporânea que refletisse a estética do duo, algo que exigia tempo e dedicação. O resultado final trouxe um flerte com chillwave, lounge music e funk com batida sincopada. Vocês acreditam que o resultado final desse novo álbum chegou ao que tinham em mente inicialmente?
Quando começamos não sabíamos muito bem como iria ficar… a gente gosta disso de a música ter uma vida própria… ela vai ficando com uma cara que é dela e nossa em simultâneo. Honestamente… acredito que ficou até melhor do que a expectativa… pois começamos de forma muito despretensiosa.
O novo EP “Eletro Bossa Nova” nos traz uma releitura de diversos clássicos através de uma nova roupagem que mistura estilos que vão desde eletrônica, house, disco, drum n’ bass e o trip hop. Como é o processo de composição para conseguir encaixar tantos estilos em harmonia?
O nosso processo começou muito em função das músicas… tentamos sentir o que dava para colocar… o que cada música pedia… e dentro das nossas limitações também, pois estávamos em plena pandemia e esse disco foi todo feito por apenas 3 pessoas: eu, o Daniel Arruda e o David Brasileiro. Então gente começava trabalhando as harmonias, montando o esqueleto e passando para as batidas.
Como foi feita a seleção do repertório para o novo projeto?
A seleção partiu de músicas que a gente já tinha alguma intimidade… coisas que a gente já tocava em casa, mas nunca levamos a público. O projeto Eletro Bossa Nova surgiu exatamente dessa vontade de compartilhar músicas que a gente conhecia e gostava. Então essa seleção é bastante afetiva.
Uma das ambições como referiu anteriormente, do projeto está sendo a transposição de canções da bossa nova para uma linguagem mais contemporânea. Quais são os principais cuidados e desafios a serem enfrentados nesse projeto?
O principal é a gente conseguir emocionar as pessoas e passar um pouco do que a gente considera a nossa cara. O desafio está principalmente no respeito e na admiração que nós temos por esses grandes mestres que a gente está gravando… aí dá certo frio na barriga, mas o Banana Scrait sempre teve uma marca de descontração. Aí é relaxar e curtir a música.
Como definiriam a importância da bossa nova para a cultura e história da música brasileira?
Penso que é até difícil definir… a bossa nova levou a música brasileira para o mundo, naquela época foi muito revolucionário e eu acredito que continua até hoje.
Algo que existiu bastante em comum entre vocês foram as influências roqueiras. Como e quando foi que surgiu a ideia de se unirem no Banana Scrait?
A ideia surgiu quando nós acabamos uma banda que tínhamos, chamada Flores Assassinas, que era bem rock nacional (meio legião meio kid abelha) nessa banda eu não cantava, tinha um vocalista masculino e o Daniel havia entrado para fazer o saxofone. Quando a banda acabou a gente queria fazer tudo diferente, eu passei a cantar e naturalmente o idioma foi o inglês porque estávamos muito influenciados pelas bandas daquela época. A gente comprava Melody Maker, NME e adorávamos conhecer as novidades… aquilo era um novo mundo para todos nós eram os primórdios da internet e a gente conseguia conversar com uma galera distante, tivemos resenhas em zines gringos e tudo mais…eram os primórdios da internet, rolava muita coisa por correio. Muitas fitas cassete do Banana Scrait acabaram voando pelo mundo desse jeito… era passar um plástico bolha e esperar que chegasse… e chegava.
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