
Maria Angélica Santos Cruz, conhecida como Angélica Santos é atriz, narradora, dubladora e diretora de dublagem. Um dos trabalhos de mais destaques da artista é dar a voz ao Cebolinha em Turma da Mônica.
Além do ‘quelidinho do Blasil‘, Angélica também dubla: Oolong de Dragon Ball; Sonya Blade de Mortal Kombat X e Mortal Kombat 11; Kate Austen na série Lost; Cinderela em Para Sempre Cinderela; Batatinha em Os Batutinhas; Jade em Violetta; Hope van Dyne / Vespa em Homem-Formiga e a Vespa; Charlotte Richards em Lúcifer; entre outros. Confira a entrevista:
Olá, Angélica, tudo bem? Primeiramente, conte ao público um pouco do seu início como atriz narradora, dubladora e diretora de dublagem.
Angélica: Tudo bem! Obrigada pelo convite! Eu era bailarina, porque comecei o ballet bem novinha e aí quando estava na adolescência, pintou um teste para fazer parte do teatro da Turma da Mônica, vestindo aqueles bonecos. Fiz o teste para o papel da Mônica e acabei passando. Uns dois meses depois surgiu outro teste para fazer a voz dos personagens. Já haviam existido outros elencos e o último que estava na ativa era composto por um grupo de cantoras – as Harmony Cats – onde a Maria Amélia (Maria Amélia Costa Manso Basile) fazia a Mônica, Vivian (Vivian Domingues Castilho de Toledo Costa Manso) interpretava a Magali, Isaura Gomes, que é uma dubladora bem antiga era a voz do Cascão, e Ivete Jaime o Cebolinha. Mas a agenda delas era muito difícil pela fama que tinham na época. Foi quando o Maurício (Maurício de Sousa) decidiu fazer um novo teste para as vozes.
Fiz o teste para MAGALI, só que quando saiu o resultado, pra minha surpresa, peguei o CEBOLINHA (Risos). Então a minha carreira começou há 37 anos com o Cebolinha. Permaneci no teatro, continuei com o ballet mais algum tempo, mas a dublagem ganhava cada vez mais espaço na minha vida e percebi que tinha me encontrado. Cinco anos depois de assumir o Cebolinha me tornei diretora de dublagem na Maurício de Sousa Produções e mais pra frente no Estúdio Álamo. Lá (na Álamo), eu cheguei a ser coordenadora, mas também tive a oportunidade de passar por muitas casas (estúdios).
Você é a dubladora do Cebolinha da Turma da Mônica. Como é dar voz a este personagem há tantos anos? Como é a recepção das pessoas quando “descobrem” que é uma mulher dando a voz a ele?
Angélica: Pois é. No começo, fiquei meio assustada (risos). Agora, já se tornou uma coisa mais normal, já são tantos anos, né? Mas curto demais fazer. É um personagem que tenho um carinho absurdo. E a recepção é ótima! Eu nunca tive uma recepção negativa. Já escutei ‘Pô! Acabou com a minha infância’ (risos), mas também escutava na sequência: ‘Mas Pô! Que legal!’. Também já ouvi alguns ‘Não acredito!’. As reações são sempre muito boas. Principalmente quando descobrem que é uma mulher.

O que a dublagem significa para você?
Angélica: A dublagem pra mim é tudo, né? É a minha vida! Estou mais tempo dublando do que em casa com a minha família. Então é tudo pra mim, é onde me divirto, é onde ganho o meu dinheiro fazendo o que amo (que isso é muito bom!) e desejo a todas as pessoas, sabe? Porque assim você não tem aquela sensação de ‘aff amanhã é segunda-feira’. Não tem essa! Penso ‘Amanhã é segunda-feira e eu vou trabalhar! Aleluia!’ Eu amo! Amo! A dublagem é mesmo a minha vida!
Como foi o início da quarentena e como tem sido atualmente para você?
Angélica: No início, ficamos dois meses sem trabalhar. Porque ir para o estúdio era uma grande possibilidade de pegar o vírus. Os locais são fechados, com ar condicionado e não podemos usar máscara. O risco era alto. Então, estou em casa há seis meses quase. No começo foi difícil e aí piorou (risos). Agora, depois que comecei a trabalhar de novo, me sinto muito mais útil! Ainda não consegui retomar as gravações presencialmente e na minha casa, dois dos meus três filhos são do grupo de risco, ou seja, de jeito nenhum eu poderia me expor. Fiquei realmente presa. Mas hoje estou mais tranquila, ainda não retomei minhas atividades como antes, e sigo na torcida que saia uma vacina logo! Né? (Risos).
Dando voz a personagens como Vespa, Charlotte Richards, Sonya Blade, Pérola, Cebolinha, entre outros. Existe algum que você considere o mais especial? Existe algum que você não deu voz, mas aceitaria na hora fazer?
Angélica: Olha, é estranho falar em um que considere mais especial, pois todos são. O Cebolinha desde sempre. Um outro personagem que amei fazer e foi muito importante para mim era o Kevin, da série ANOS INCRÍVEIS. Eu adorava fazer essa série maravilhosa. E também tem muito de sentir uma conexão com aquele que você está fazendo no momento. Você colocou outros como a VESPA da Marvel, que é um marco na história do cinema mundial e ela tem todo um contexto de empoderamento e incentivo as mulheres para se unirem na luta contra o mal (risos). Já fiz tanta coisa que é muito difícil falar. São vários, vários! As séries que mais curti fazer, muitas de comédia, como a Santa Clarita Diet onde dublo a Drew Barrymore, ou a Crazy Ex-Girlfriend me divertem! Agora, algo que ainda não fiz e aceitaria na hora é um desenho para cinema da Disney. É meu sonho! Nunca fiz nenhum desenho pra Disney e aceitaria sem pensar!

Já teve algum personagem que você sentiu que poderia ter ido melhor depois de assistir ?
Angélica: Já teve sim, mas era em uma situação onde eu não estava num dia bom. Ou as vezes o diretor te prende um pouco, mas a gente vai levando. Então existem ocasiões que você sente que poderia ter sido melhor. O jeito é seguir em frente e não deixar aquilo te dominar para fazer um bom trabalho no próximo personagem ou na próxima gravação.
Dando voz a Drew Barrymore na maioria dos filmes/séries, como é para você dublar essa atriz que é tão querida?
Angélica: Eu adoro ela! E acho que a minha voz cai super bem nela. Entre os filmes que ela estrelou e eu dublei, lembro sempre do Nunca Fui Beijada (um que adoro), Para Sempre Cinderela, enfim. Nesse último trabalho que fiz (Santa Clarita Diet), que é uma série, recomendo muito, dei muita risada, mesmo não sendo fã de zumbis. Mas um zumbi comédia, tudo bem, né? (risos). Eu acho que ela é incrível!
O que é ser uma diretora de dublagem? Quais trabalhos já dirigiu?
Angélica: Ser diretora de dublagem é uma coisa muito séria. Porque o filme já tem um diretor que estipulou como ele queria. Então, é preciso efetuar um trabalho sintonizado como aquele diretor e com tudo que ele desenvolveu para aquela produção. É preciso ser fiel a tudo que ele aplicou e fazer a obra-prima da obra-prima. Também significa assistir o filme, escalar as vozes certas para cada personagem e estipular os prazos para cada um do elenco realizar suas gravações sempre os acompanhando. Além disso, é preciso dar todas as coordenadas da interpretação, sincronia, do entendimento que você teve do filme e etc.
É um trabalho gigante, mas maravilhoso. Você vai colocando as pecinhas, cada dublador vai enriquecendo com a sua voz e aquele filme vai ganhando corpo. Eu fico encantada com o resultado final do filme. Dá uma satisfação imensa. Os trabalhos que já dirigi, vou lembrar dos últimos, até alguns antigos como ARRASTE-ME PARA O INFERNO, UGLY BETTY (americana). Recente tem o NOS4A2 e uma que não saiu ainda, então não posso falar! (Risos). São muitos trabalhos, mas a cabeça de dublador tem uma memória curtinha (risos).

Deixe uma mensagem.
Angélica: A mensagem que deixo é a seguinte: A dublagem tem um papel essencial para muitos indivíduos. Pessoas cegas têm a possibilidade de vivenciar aquela experiência e sentir as emoções conduzidas pela nossa voz. Aos idosos, nada melhor que uma produção dublada para que possam assistir e ter mais entretenimento. Naqueles dias que você chega em casa cansado e não quer ler nada, mas quer assistir algo pra relaxar, um filme dublado exige menos esforço do seu cérebro (risos). Para pessoas analfabetas, que infelizmente são muitas, permite a inclusão. A dublagem também leva a língua portuguesa, que é belíssima em todas sua amplitude, para todo o país. Ou seja, também educa e adiciona cultura na bagagem de cada um. Mas obviamente que a dublagem só é essencial quando bem feita. Hoje nós temos fãs de dublagem, pessoas interessada que quando assistem um trabalho mal feito, elas reclamam e isso é maravilhoso. Por que? Porque ultimamente nós temos percebido que há uma prioridade em enxugar custos numa produção ao invés da qualidade e nós, dubladores profissionais, dependemos dessas pessoas pois com a colocação delas, nosso trabalho é de fato valorizado. Quando elas reclamam, fazem as empresas reconsiderarem e repensarem que essa escolha pelo mais barato atinge diretamente a experiência do público e cada dia mais vem surtindo efeito. Então, a mensagem que deixo é TENHAM VOZ, não só nesse contexto da dublagem, mas para tudo em suas vidas. No cenário das produções, seja de séries, desenhos ou filmes, exponham suas opiniões para os distribuidores. Isso ajuda MUITO na nossa profissão e dá valor aos verdadeiros representantes da área de dublagem no Brasil, que são sensacionais! Queria agradecer a todos que apoiam o universo da dublagem e para aqueles que não gostam, que procurem produções com boas dublagens. O Brasil é reconhecido como um país com as melhores dublagens do mundo. Isso precisa ser valorizado.
Mais uma vez, muito obrigada pela oportunidade e até a próxima.
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