Em 3 de março, é celebrado o Dia Mundial da Audição. O que deveria ser apenas um ato de conscientização, tem se tornado um importante alerta para a humanidade. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 466 milhões de pessoas sofrem de perda auditiva no mundo. A entidade afirmou ainda que, até 2050, o número pode aumentar para 900 milhões.
Pensando sobre o assunto, Andrezza Barros e Luca Moreira entraram em contato com a Fonoaudióloga, Cintia Fadini para falar do assunto. A doutora é formada pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Possui Mestrado em Fonoaudiologia pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Também é Pós Graduada em Processamento Auditivo pela CEFAC e GEPAT, São Paulo/SP. Realiza em seu consultório a avaliação clínica da audição, seleção e adaptação de aparelhos auditivos com treinamento das habilidades auditivas centrais. Confira a entrevista:
No dia 3 de março, é celebrado o Dia Mundial da Audição. Existe alguma razão especial para a escolha desse dia dentre tantos?
Cintia: No dia 3 de março foi feito uma conferência em Pequim, na China, em 2007. Foi a primeira conferência internacional sobre prevenção e reabilitação de deficiência auditiva. O dia foi feito a partir disso, tem por objetivo aumentar a conscientização e promover os cuidados com os ouvidos e a audição em todo mundo. Então, a cada ano é feito um tema específico para orientação e cuidado da orelha.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 466 milhões de pessoas sofrem de perda auditiva no mundo. A entidade afirmou ainda que, até 2050, o número pode aumentar para 900 milhões. Quais são as maiores razões para que ocorra tanta perda de audição assim?
Cintia: Não se tinha, até então, um diagnóstico precoce. Os exames não eram precisos. As pessoas não tinham consciência de que uma perda leve poderia já ser uma perda auditiva. Então, com a orientação e com todos os cuidados, falando sobre o diagnóstico precoce, temos muitas pessoas sendo diagnosticadas. Porém, não podemos esquecer que a população tem hábitos que desencadeiam a perda auditiva, que é o excesso de medicamentos, o excesso de ruídos, a questão de hábitos de colocar coisas dentro da orelha.
Existem sintomas para que possamos identificar quando uma pessoa está para perder a audição?
Cintia: O paciente já começa a perceber que não está ouvindo como antes, começa a reclamar de algumas falas, dizendo “é ele que fala devagar”; “é ele que fala baixo”; “que fala rápido”, já pede por repetições com frequência, a TV fica mais alta, tem a presença do zumbido como sinal. Comenta que está tendo uma perda auditiva; ou quando tem muita gente por perto, se incomoda; acaba balançando a cabeça para concordar com algo que ele não sabe o que é.
Quais são os tratamentos mais comuns para esses casos?
Cintia: O primeiro passo é a avaliação clínica da audição, identificar o grau da perda auditiva. Geralmente, o tratamento mais comum é o uso do aparelho auditivo, fazer com que a nossa orelha volte a ter acesso aos sons. Em alguns casos, as cirurgias podem auxiliar como também algumas remoções de cera, em casos pequenos.
Como uma alimentação saudável pode influenciar na audição?
Cintia: Nosso corpo é totalmente responsável pelo que chega na orelha. Então, se eu tenho alteração de vasos, de sangue, de correntes, de dilatação, tudo vai direto para orelha, por ser um sistema muito sensível, com vasos pequenos. Problemas de saúde como Diabete e pressão alta, por exemplo, influenciam no sistema auditivo. Quando a pessoa se alimento bem, tem um sistema funcionando bem, tem mais saúde “chegando” na nossa orelha. Uma alimentação saudável pode, sim, melhorar a vascularização do sistema auditivo.
É mito ou verdade que a limpeza dos ouvidos com cotonetes pode ser prejudicial a longo prazo? Qual o melhor método para se realizar uma limpeza?
Cintia: O uso do cotonete não é recomendado, porque dentro da nossa orelha tem uma membrana muito fina. Caso essa membrana seja furada, a audição pode ser prejudicada na hora. O cotonete entra muito na orelha, pode correr o risco de perfurar essa membrana, além dele empurrar a cera. Caso a pessoa tenha um pouquinho de cera, ela acaba empurrando mais ainda. O ideal é usar o dedo indicador com uma flanelinha sem estar molhada. Caso não consiga tirar com o dedo, não é pra entrar. A cera é nossa proteção, precisamos da cera para não ter coceira nem desconforto dentro da orelha.
Uma dor no ouvido pode acarretar dores em outras partes do corpo como dente ou cabeça? Como funciona?
Cintia: Dependendo da inflamação, pode descer para mandíbula, para região da boca, para região atrás da orelha. O contrário também é verdadeiro, uma dor no dente pode subir e, de repente, pegar áreas próximas do sistema auditivo. Isso acontece muito com a garganta, quando as crianças estão com dor de garganta, podem também ter dor no ouvido.
É verdade ou mito que o leite materno ao ser pingado no ouvido, alivia a dor?
Cintia: Mito. O leite materno é rico em proteína. Caso a pessoa coloque isso dentro da orelha, pode criar uma proliferação de bactérias e fungos. Dentro da orelha, não podemos colocar nada, nem água, porque pode desencadear um desequilíbrio nesse sistema e gerar uma infecção.
O que para muitas pessoas da população é considerado um sentido humano normal, para uma grande parte da população a audição tem uma valorização imensa, tanto que muitas pessoas têm nela uma deficiência. Olhando por esse lado, qual é a maior importância do Dia Mundial da Audição e como esse dia representa tantas pessoas?
Cintia: A população ainda não tem noção do que é perder um sentido. Só quem vive com um paciente com perda auditiva sabe o que é viver sem audição. Então, tornou-se algo comum. Ouvir é algo tão inerente ao ser humano que eles não percebem que quando o paciente deixa de ouvir, ele deixa de interagir, de se comunicar, de estar com pessoas e perde credibilidade, deixa de ser aquela pessoa ativa, que consegue discutir e falar com familiares, nos negócios. Vejo que os pacientes que perdem a audição, dão muito valor para esse sentido. Por isso, é muito importante ter um dia para falar do cuidado e da prevenção.
O ser humano na questão de seus problemas evolutivos, têm como tendência sempre ter algo em sua vida que possa gerar um preconceito, geralmente por possuir ou ter falta do objeto em sua vida em relação à sua vítima. Você acredita que dentre estes aproximadamente 466 milhões de deficientes, muitos ainda possam passar por momentos desagradáveis? Quando a deficiência pode ter virado motivo de descriminação?
Cintia: Vejo frequentemente no consultório pacientes com a autoestima muito baixa, porque eles não conseguem entender o que as pessoas falam. Entre familiares, esses pacientes se tornam motivo de piadas e gozações, o que prejudica muito na vida pessoal do paciente. É um preconceito mascarado, mas para o paciente torna-se uma ofensa. Vejo em algumas situações que tem bastante preconceito e que as pessoas não têm noção do quanto é triste para o paciente não poder interagir, falar e ser ouvido.
Tem uma coisa que conseguimos observar, é que a deficiência não tem idade certa para acontecer, podendo surgir problemas até mesmo no nascimento. Na fase infantil ou adolescência, os jovens frequentam a escola que é um ambiente propício a ataques de outros colegas. Caso a conscientização não seja promovida ativamente, as crianças poderiam sofrer mais com essas questões?
Cintia: Eu não vejo essa questão de preconceito tanto para adolescente. O uso do aparelho auditivo está tendo outra visão para essa geração, eles olham como tecnologia. É interessante, porque eles gostam de usar aparelho. O idoso vem de uma concepção de que o aparelho é algo grande e incômodo. Então, vejo um preconceito muito maior em idade avançada do que em adolescentes.
Entrevista em parceria com Luca Moreira.
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