Relatório da Fazenda detalha repasses das bets ao esporte e governo discute comitê para fiscalizar recursos; futebol concentra 88% das apostas
O volume de recursos destinados ao esporte por empresas de bet no Brasil chegou a R$ 773,9 milhões no primeiro semestre de 2025, segundo dados da Secretaria de Prêmios e Apostas (SPA) do Ministério da Fazenda. Apesar da destinação prevista em lei, o Ministério do Esporte afirma que os valores ainda não foram repassados diretamente à pasta, permanecendo na conta única do Tesouro Nacional.
Os repasses correspondem a parte dos 12% da receita bruta das operadoras, conforme determina a Lei 14.790/2023, que regulamentou o mercado de apostas de quota fixa no país. O setor, que movimentou R$ 17,4 bilhões no período, tem se consolidado como uma das principais fontes de financiamento para programas e entidades esportivas.
A Portaria SPA/MF nº 1.902, publicada em janeiro, formalizou as regras de destinação das receitas das apostas online. O texto define que 36% dos repasses devem ir para o esporte, distribuídos entre o Comitê Olímpico do Brasil (COB), o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), o Comitê Brasileiro de Clubes, federações escolares e universitárias e outras entidades reconhecidas.
Popularidade das modalidades e o papel das bets
De acordo com levantamento de uma bet regularizada, divulgado em agosto de 2025, o futebol tem ampla liderança entre as modalidades mais populares: é responsável por 83,49% dos usuários ativos e 88,17% das apostas realizadas na plataforma.
Em seguida aparecem tênis (6,23%), basquete (3,19%), vôlei (1,25%), beisebol (0,9%), UFC/MMA (0,75%), futsal (0,81%), tênis de mesa (0,66%), hóquei no gelo (0,47%) e esportes virtuais (0,50%).
Os dados revelam também forte crescimento no futsal (+61,6%) e no basquete (+29,6%) em relação ao mês anterior, refletindo o aumento do interesse por competições nacionais e internacionais dessas modalidades. Entre os campeonatos mais apostados estão o Brasileirão (11,87%), a Série B (5,10%), a Copa Libertadores (4,50%) e a Premier League (3,97%).
A predominância do futebol reforça o papel das apostas como fonte de financiamento indireto para o esporte brasileiro. No entanto, o avanço de modalidades como o tênis e o basquete sinaliza uma diversificação gradual no perfil dos apostadores.
Comitê interministerial para monitorar os repasses
Com o crescimento do mercado, o governo federal estuda criar um comitê interministerial para acompanhar a arrecadação e a destinação dos recursos provenientes das bets. A proposta, apresentada pelo Ministério do Esporte em audiência pública, prevê a integração entre a própria pasta e a Fazenda, que é responsável pela fiscalização e controle das operadoras.
A iniciativa pretende estabelecer mecanismos de rastreabilidade e auditoria, consolidando dados que hoje estão dispersos entre diferentes órgãos. A ideia é que o grupo atue como uma “segunda camada” de controle, garantindo previsibilidade e transparência na aplicação dos recursos.
Projeto de lei amplia repasses para o Fundo Nacional do Esporte
Paralelamente, tramita na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei 4518/2024, que destina 1% da arrecadação das bets ao Fundo Nacional do Esporte (Fundesporte). A medida reduz de 22,1% para 21,1% o percentual atualmente destinado ao Ministério do Esporte, a fim de diversificar o financiamento de modalidades menos favorecidas, como judô, natação e atletismo.
O deputado Defensor Stélio Dener (Republicanos-RR), autor da proposta, argumenta que o objetivo é “ampliar a participação de modalidades diversas, evitando a concentração dos recursos apenas no futebol”.
Fiscalização e integridade esportiva
Desde o início de 2025, a SPA vem reforçando as medidas de fiscalização do setor. O Sistema de Gestão de Apostas (Sigap), desenvolvido pelo Serpro, monitora transações em tempo real e auxilia no combate à lavagem de dinheiro e à manipulação de resultados.
A regulamentação determina que as apostas sejam feitas apenas em sites com domínio .bet.br e que os pagamentos ocorram exclusivamente por transferência eletrônica entre contas cadastradas, o que permite rastrear o fluxo de valores e fortalecer a integridade do sistema.
Perspectiva para o setor
O fortalecimento da regulação e a ampliação dos repasses das bets representam um avanço para o financiamento do esporte brasileiro. Especialistas apontam que a combinação entre fiscalização ativa, transparência e novas fontes de receita pode garantir previsibilidade orçamentária para programas sociais e de alto rendimento. Enquanto o governo trabalha na implementação de mecanismos de controle e o Congresso analisa ajustes na legislação, o desafio é consolidar um modelo de gestão capaz de transformar o potencial econômico das bets em benefícios concretos para atletas, federações e projetos esportivos em todo o país.
Descubra mais sobre Andrezza Barros
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.



