A cantora Daphne, primeira DJ/Live do The Voice Brasil, quebrou barreiras e inovou ao lançar sua música “Ovelha Negra” em duas versões diferentes no mesmo dia: eletrônica e R&B.
A composição tem uma letra forte, carregada de significado e que representa o início de uma nova fase na carreira da DJ. Conversamos com ela sobre os desafios na produção de “Ovelha Negra”, seu caminho após a saída do The Voice e as novidades que podemos esperar para 2022. Confira a entrevista!
Lançar o mesmo single em duas versões no mesmo dia é algo completamente inovador. Como foi esse processo e o que significou para você?
Foi um processo completamente novo e complexo para mim. Nenhum artista com quem tenho relação já havia feito isso antes, então quase todas as minhas dúvidas foram tiradas meio por tentativa e erro.
O primeiro passo que tive que dar foi entender como funciona a parte burocrática de edição da obra, por serem duas versões, mas em colaboração com artistas diferentes, e também de distribuição. É algo que os artistas não estão acostumados a ir atrás e entender, porque é feito por gravadoras e editoras. Porém nem mesmo as gravadoras com que tive contato souberam me explicar muito, e acho que isso foi um fator importante para a música ser negada, e, por fim, lançada desta forma, independente.
Mesmo assim, eu gosto de estar 100% inteirada sobre meu trabalho, e aprender sobre esses tópicos foi quase uma faculdade pra mim. O que nos fez levar mais tempo para preparar o lançamento. Todo esse aprendizado, certamente mudou minha forma de trabalho para as futuras músicas.
Ao mesmo tempo em que foi libertador poder me expressar de formas diferentes do que estou acostumada, eu senti uma pressão enorme durante todo o processo. Eu sou musicista desde pequena, então para eu tocar um violão, uma guitarra ou um piano e gravar isso para colocar numa produção ao invés de samplear ou mesmo fazer através de um plugin, é extremamente normal. Mas isso faz com que a música fuja de uma curva que o mercado tem levado os artistas. Hoje tudo é muito instantâneo, prático e tecnológico, porque o mercado pede por essa rapidez dos artistas de entregar conteúdo, não só na música. E não posso julgar, porque certamente é cinco vezes menos cansativo, e muita vez exige menos do artista. Porém o resultado também é outro. Não digo que todos os gêneros seguem essa premissa, mas como sou da música eletrônica, onde poucas músicas são feitas de forma tão orgânica, “Ovelha Negra” certamente não se encaixa em algum tipo de padrão. E o fato da música não fazer parte de um padrão, é o que a faz soar diferente para o ouvido das pessoas. No quesito originalidade, é ótimo! Mas nem todas as gravadoras estão buscando o diferente, por exemplo.
Uma das coisas mais marcantes da composição é a sua letra. O que ela significa para você?
Significa tantas coisas, e se encaixa em tantos contextos… tentando resumir, “Ovelha Negra” conta minha história de vida, desde a época de escola, até mesmo do momento em que decidi seguir na música eletrônica. Eu sou de uma cidade bastante tradicional, digamos assim, então quando saí de casa aos 18 para aprender e trabalhar com música eletrônica, não foi fácil para os meus pais. Eu sou extremamente grata pela forma que eles me criaram, e por tudo que eles tiveram que ouvir de pessoas que não entendiam minhas escolhas. E acho que é por isso que a letra da música tem causado tanta identificação por parte do público. Porque o que para mim é um padrão de vida, não é para outras pessoas. E sempre terá alguém que não vai entender algo que para você é comum. Então, você sempre será a ovelha negra em algum momento da sua vida.
“Ovelha Negra” é sua primeira composição em português. Como foi o processo de criá-la?
Eu comecei a escrever músicas desde muito pequena, não lembro nem a idade, porque eu estava sempre criando coisas do nada, sem nem ter a intenção. E muitas foram em português no começo, mas nenhuma que eu julgue boa. Acho que por isso eu passei a evitar composições e até mesmo cantar em português.
Quando recebi a notícia de que eu cantaria uma música em português no The Voice, eu sabia que seria um desafio bem grande. A língua portuguesa é cheia de vocais, então até mesmo para cantar você precisa de uma articulação diferente e mais aberta do que quando canta em inglês, por exemplo, e isso muda até mesmo como sua voz soa. Eu decidi cantar menos articulada no meu duelo do The Voice, e eu sabia dos riscos. Fui eliminada, e quando cheguei em casa me tranquei em um quarto para escrever. Comecei a música em inglês e logo pensei: “preciso sair dessa zona de conforto pelo menos uma vez, para ver no que dá”. E assim nasceu “Ovelha Negra”.
Além de compositora, cantora, produtora e DJ, você também é multi-instrumentista. Conta para a gente como é a sua história com a música, você sempre quis trabalhar com isso?
Eu sempre amei música, e quando era criança sonhava em ser cantora. Mas minha voz era extremamente rouca e grave para a minha idade. As pessoas achavam bonitinho, mas ninguém, nem mesmo eu, via isso como um potencial. Eu decidi que queria viver de música com 10 para 11 anos, quando fiz minha primeira apresentação no evento de fim de ano da escola em que eu cursava violão. E eu nunca vou esquecer a minha mãe falando: “mas filha, você sabe como isso é difícil, né?”. E eu lembro muito bem de responder que não me importava, mas que eu daria meu melhor para dar certo. E deu. Realizei o sonho de viver de música, e não me vejo fazendo qualquer outra coisa.
Como foi sua jornada após a saída do The Voice? Quais os impactos que sua participação no programa teve em sua postura como artista?
Pode ser bizarro falar isso, mas me ensinou mais do que enquanto eu estava no programa. Digo isso porque quando você está lá dentro, você não pensa muito, só vive a experiência. É algo meio lúdico para quem nunca teve uma exposição desse tamanho.
Quando você sai, você volta para a realidade, digamos assim. Então você começa a receber e perceber os resultados com mais clareza. E quando dá o “down” pós-programa, é quando você se descobre de verdade como artista, e o que você quer para você. O The Voice foi uma experiência de autoconhecimento gigantesca para mim. Tudo que eu ouvi dos técnicos ou da produção do programa, eu só “digeri” depois de um tempo. E quando você entende a profundidade de algumas frases, é quando você cresce. Eu sinto que as consequências de estar em rede nacional me deram maturidade para lidar com contextos difíceis e sair da bolha que muitas vezes nós mesmos nos colocamos.
A versão eletrônica de “Ovelha Negra” é uma collab com Claudinho Brasil. Como foi o processo de produção junto com ele?
Foi uma loucura! Eu e Claudinho estávamos trabalhando uma música em espanhol na época que escrevi “Ovelha Negra”, e ele ama vocais em português. Eu sinceramente não pensava em produzi-la como eletrônica, ou mesmo lançar a música. Porque foi algo que fiz para mim, para me desafiar. Contei para ele de uma barreira que rompi em meio a conversas e ele me pediu para mostrar o vocal. Enviei uma versão acapella de celular para ele, e ele pirou! Perguntou se eu conseguia gravar em um bpm mais acelerado para ele tentar algo, e conseguimos chegar em 72,5 que faria a música ficar em 145. Então deixei o vocal com ele, sem muita expectativa. Depois que ele me enviou a primeira versão foi quando afloraram algumas ideias em mim, e como a outra música que estávamos trabalhando não era uma composição minha, decidimos focar apenas em “Ovelha Negra”. Eu gosto de trabalhar músicas nas quais tenho ao menos participação na letra, porque cria uma conexão maior comigo, e a energia que coloco na interpretação fica muito mais pessoal.
E a versão R&B? Era uma área com a qual você tinha contato antes de produzir a música?
Quando o vocal nasceu, eu tinha pensado em produzi-la toda voz e violão. Nem havia pensado em lançar, só queria trabalhá-la, como uma experiência pessoal mesmo. Eu sempre fui muito fã de R&B, cantava muito na época em que fazia bares com o violão, mas nunca tinha produzido algo nesse gênero. Eu gravo meus vocais com o Geum, no estúdio dele, há alguns anos já. E quando levei o vocal de “Ovelha Negra” para gravar, pedi para ele jogar um kick e um clap, porque odeio gravar em cima do som de metrônomo. O Ge é muito criativo, e fez um beat que combinou demais ali na hora. Juntando com a guia de piano ficou tão lindo, e tão a cara do que eu senti quando escrevi, que queria que as pessoas sentissem aquilo também. Foi quando decidimos trabalhar nela e fazer essa versão mais intimista.
Quais são suas maiores influências musicais?
Amy Winehouse é com certeza a maior referência que tenho. Sou apaixonada pela verdade que ela sempre imprimiu nas músicas dela, independente de estar escrevendo sobre uma experiência ruim. Ela não fez boas escolhas na vida pessoal, mas nunca se escondeu atrás de uma imagem comercial. Além de Amy, sou fã de Lauryn Hill, Green Day, Alicia Keys, Avril Lavigne, entre outros. Eu tiro inspiração de vários artistas e gêneros. Acredito que esse mix sonoro é o que sempre me faz ter ideias diferentes.
Podemos esperar mais composições em português daqui para frente?
Eu compus algumas letras em português já, uma delas é uma mensagem que uso na abertura dos meus sets em alguns shows. Mas para ser sincera estou mais focada no bass house agora, que não é uma vertente muito popular no Brasil, pelo menos não ainda. O que automaticamente me leva para mais vocais em inglês. Eu sou versátil, e amo ser assim. Mas descobri que minha alma pertence a House Music, então é para onde os vocais das próximas músicas estão seguindo.
Quais os próximos passos para 2022?
Eu fiquei um ano sem lançar música. Porém durante esse um ano, meu foco foi aprimorar meu conhecimento em produção, o que fez descobrir minha identidade sonora. Fiquei quietinha, criando bastante e me descobrindo artisticamente durante esse período. Então a partir de agora teremos vários lançamentos pelos próximos meses, de músicas já prontas, e espero não parar mais!
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