País avança no enfrentamento da aids como problema de saúde pública; especialistas destacam desafios relacionados ao comportamento, prevenção e combate ao estigma.
O Brasil alcançou, em 2023, uma das metas globais da Organização das Nações Unidas (ONU) para a eliminação da aids como problema de saúde pública. Segundo dados do Programa Conjunto das Nações Unidas para o HIV/aids (Unaids), 96% das pessoas com estimativa de viverem com HIV no país já foram diagnosticadas, superando a meta de 95%.
Os objetivos definidos pela ONU incluem também que 95% das pessoas diagnosticadas estejam em tratamento antirretroviral e, destas, 95% em supressão viral — condição em que o vírus se torna intransmissível. No Brasil, os índices gerais indicam 96% de diagnóstico, 82% de pessoas em tratamento e 95% de supressão viral. Embora o avanço seja significativo, desafios persistem em determinados grupos populacionais, como jovens de 15 a 24 anos e mulheres acima de 50.
Jovens: entre a percepção reduzida de risco e a influência digital
Segundo a infectologista Dra. Débora Letícia, dos hospitais Mater Dei Santa Clara e Mater Dei Santa Genoveva, o aumento dos casos de HIV entre jovens está ligado à maior liberalização sexual, aliada à falta de campanhas educativas contínuas e ao acesso limitado a informações de qualidade sobre prevenção. “O estigma e a discriminação também contribuem, dificultando o diagnóstico precoce e o aconselhamento adequado”, explica. Além disso, ela destaca o impacto das redes sociais e aplicativos de relacionamento no aumento de comportamentos de risco, bem como a diminuição do uso de preservativos, reflexo dos avanços no tratamento do HIV/aids.
Mulheres acima de 50 anos: diagnóstico tardio em relações consideradas estáveis
O aumento proporcional de diagnósticos de HIV em mulheres com mais de 50 anos está associado à ausência de uso de preservativos em relações consideradas estáveis, onde a percepção de risco é menor. “Muitas vezes, os parceiros estão expostos a comportamentos de risco, sem que elas saibam”, pontua a infectologista. Por outro lado, a busca mais frequente por atendimento médico por parte das mulheres facilita o diagnóstico precoce, contrastando com o comportamento de homens na mesma faixa etária.
Estratégias para ampliar o acesso à PrEP
A profilaxia pré-exposição (PrEP), medicamento preventivo oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS), é uma ferramenta importante na redução de novos casos, mas seu acesso ainda é limitado por barreiras sociais e geográficas. A Dra. Débora cita o Ambulatório Herbert de Souza, em Uberlândia, como um modelo de atendimento humanizado que garante privacidade e acolhimento, essencial para superar o estigma e encorajar a busca pela PrEP.
Educação, prevenção e combate ao preconceito
Para reduzir os índices de infecção por HIV e outras ISTs, especialmente entre jovens e populações vulneráveis, a especialista enfatiza a necessidade de programas abrangentes de educação sexual em escolas, campanhas acessíveis e maior disponibilidade de métodos de prevenção, como preservativos, PrEP e PEP (profilaxia pós-exposição). Testagens rápidas e gratuitas também são importantes para o diagnóstico precoce e o início imediato do tratamento.
“A luta contra o HIV/aids vai além do atendimento clínico. Envolve combater preconceitos e garantir que todos tenham acesso à informação e ao cuidado”, conclui a Dra. Débora.
Com avanços significativos no diagnóstico e na supressão viral, o Brasil mostra progresso no enfrentamento da aids, mas precisa intensificar esforços para alcançar as metas em todos os segmentos da população, especialmente os mais vulneráveis.
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